Bikodisse: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória educacional antes do ingresso no pré-vestibular Steve Biko.
Manuela Barbosa: Minha trajetória educacional foi conturbada e impulsionadora ao mesmo
tempo. Iniciei os estudos em uma escola particular de pequeno porte e na mesma cursei todo o ensino fundamental I. Após esse período adentrei ao sexto ano do ensino fundamental II, em uma escola particular de grande porte, mas fui reprovada, pois não possuía os livros solicitados, e por isso apresentava muita dificuldade na compreensão dos assuntos.
Por causa da reprovação, no ano seguinte fui matriculada na Escola Estadual Classe III para repetir o sexto ano, mas adquiri uma doença óssea e por conta dessa comecei a andar de muletas. Por causa da enfermidade e do uso contínuo das muletas, recebia muitos apelidos dos colegas e como não sabia lidar bem com tal situação, pedi a minha família para ficar um tempo sem estudar e eles aceitaram.
Fiquei um ano e meio afastada da escola. Nesse processo de afastamento fiz cirurgia, fisioterapia e me recuperei tanto fisicamente quanto emocionalmente, após isso voltei para a mesma escola muito mais segura então pude concluir o ensino fundamental II.
Já o ensino médio foi mais tranqüilo. Estudei na Escola Estadual Marquês de Maricá do primeiro ao terceiro ano do ensino médio, todos esses três anos foram bastante satisfatórios, pois estudei e comecei a trabalhar informalmente, essa experiência me fez traçar metas e adquirir uma vontade de me desenvolver. Por isso, antes de finalizar o último ano comecei o cursinho no Instituto Steve Biko.
Bikodisse: Antes de ingressar no Instituto Steve Biko você já havia participado de outro grupo ou ONG? Quais? De que forma?
Manuela Barbosa: Antes do Instituto Steve Biko nunca havia participado de nenhum grupo ou ONG.
Bikodisse: Quando e como começou sua história na Biko? Enfrentou alguma dificuldade para cursar as aulas do pré-vestibular? Qual (is)?
Manuela Barbosa: Minha história no Instituto Steve Biko começou em julho de 2004. Nesse ano cursava o terceiro ano do ensino médio e não tinha muito conhecimento do que era um pré-vestibular e uma faculdade, pois vivia o mundo do meu bairro onde a realidade “comum” é finalizar o ensino médio e trabalhar, faculdade era uma realidade muito distante.
Porém, na minha escola havia uma educadora de Língua Portuguesa chamada Lúcia Marçal que sempre apresentava questões sociais problematizando o nosso futuro pós ensino médio. Essas aulas tiveram um valor imenso para mim, sendo que comecei realmente a pensar o que iria fazer quando concluísse o ensino médio.
Por ironia do destino, nesse período conheci Carina Reis que já havia sido estudante Biko e em uma conversa falou-me um pouco do Instituto, explicando-me o que era um pré-vestibular e me incentivando a fazer a seleção do mesmo. A princípio fiquei temerosa, pois o curso era à noite e eu não tinha experiência em sair nesse turno, havia também o pagamento e eu não tinha dinheiro. Sabia que iria enfrentar essas dificuldades e então resolvi pedir ajuda.
Lembro-me de ter conversado com Carina e explicado meus temores e ela me estimulou a conversar com meu tio e assim o fiz. O mesmo permitiu que eu fizesse a seleção e disse que pagaria o curso. Assim, participei da seleção, fui aprovada e comecei minha trajetória de bikuda.
No ano de 2004 não passei no vestibular, mas ganhei verdadeiros amigos e o mais interessante, conheci muitos lugares em salvador. Como não havia sido aprovada em 2004 resolvi fazer uma nova seleção em 2005 e fui aprovada, contudo havia um grande problema, meu tio não ia mais poder pagar o cursinho e como eu não era mais estudante do ensino regular, não possuía mais o cartão de meia passagem, o que dificultava ainda mais a situação.
Então resolvi conversar com Mário que na época era diretor financeiro da Biko, expliquei meu problema e ele fez um acordo comigo, dando um prazo para que eu pagasse o cursinho quando eu começasse a trabalhar. Achei essa credibilidade de muita importância, pois queria muito estar no instituto e foi por isso que comecei a dar banca e assim pude não só pagar as mensalidades, como meu transporte também.
Nesse mesmo ano passei no vestibular para Pedagogia.
Bikodisse: Como foi seu relacionamento com a Biko durante esse tempo? O que faz atualmente no ICSB?
Manuela Barbosa: Meu relacionamento com a Biko sempre foi ótimo. Nesse espaço sempre me senti respeitada e acreditada.
O Instituto Steve Biko durante todo o momento me possibilitou coisas positivas, pois lá fiz amigos-irmãos, adquiri conhecimento sobre minha ancestralidade, e assim fortaleci minha autoestima o que considero de suma importância para qualquer ser humano.
Atualmente faço parte do Núcleo de Tecnologia Educacional (NUTE). No ano de 2006 após entrar na faculdade Olga Mettig fui convidada por Jucy Silva para fazer parte desse núcleo, onde obtive uma experiência profissional enorme ao conviver com profissionais da minha área e por vivenciar o cotidiano de uma instituição educacional. Tal experiência me fortalece até hoje.
Bikodisse: Em outras edições da Bikodisse, @s entrevistad@s relataram a importância da disciplina CCN (Cidadania e Consciência Negra) em suas vidas. Com eram as aulas de CCN na época que você estudou no Pré-vestibular Steve Biko? Que importância essas aulas tiveram na elevação de sua autoestima e formação política?
Manuela Barbosa: Essa aula é muito especial! Para mim essa disciplina é tão importante quanto as outras necessárias para o vestibular.
No ano de 2004 tive o privilégio de ter Silvio Humberto como professor dessa disciplina, porém era muita informação nova que contrariava minha realidade e isso me fez entrar em conflito comigo, e até mesmo com os conteúdos que eram trabalhados, o que me fazia negar o que era apresentado.
Já no ano seguinte, como estava mais madura, pude não só ouvir o que era dito, mas também comecei um processo de pesquisa sobre algumas personalidades negras e isso foi de extrema importância para mim, sendo que foi através dessa investigação que adquiri criticidade a respeito da problemática racial.
Acredito que o CCN cria situações desafiadoras para vida, pois essa aula possibilita um processo de recriação do “eu”, mas um “eu” muito mais seguro e confiante em si mesmo, no entanto é necessário estar aberto para o novo e ir em busca também das suas verdades.
Bikodisse: Quais os principais motivos para a escolha do seu curso de graduação? O que motivou o seu interesse em ingressar na Universidade?
Manuela Barbosa: Na verdade não escolhi. Pensei em várias profissões como historiadora, jornalista, socióloga e advogada. Lembro-me de ter feito o vestibular para pedagogia por que a inscrição estava barata, mas nem sabia direito do que se tratava o curso. Tinha em mente que necessitava entrar na universidade por saber que era uma maneira de melhorar minha vida, pois a faculdade representava um acesso mais rápido ao mercado de trabalho e com muito mais qualidade.
Porém, hoje sei que nasci para ser pedagoga, amo minha profissão e só faço algo para aperfeiçoá-la. A educação transforma seres humanos.
Bikodisse: O Instituto Steve Biko tem a visão de constituir-se numa Instituição de Ensino Superior (IES) em 2012. Como você se vê nesse processo?
Manuela Barbosa: Parafraseando Martin Luther King, ouso-me a escrever que: Eu tenho um sonho de que, um dia, meus filhos estudarão em uma universidade onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas sim, pelo conteúdo de seu caráter. Isso me deixa muito mais feliz!
Posso denominar isso de um salto pedagógico que eu quero, que nós queremos. Um lugar que venha ao encontro de nossos anseios, ou seja, um sistema educacional que promova a formação de uma mentalidade social mais justa e que possibilite a formação de um conhecimento racial verdadeiro.
Poder fazer parte desse processo para mim é especial. Acredito que posso contribuir de diversas maneiras, seja ministrando aulas ou ajudando na construção do plano de trabalho , ou seja, quero e vou colaborar de alguma amaneira.
Bikodisse: Qual sua opinião sobre a Lei 10.639/03 e que tipo de avaliação pode fazer sobre sua implementação.
Manuela Barbosa: Acho de grande importância a implementação da Lei nº 10.639 no currículo das escolas públicas e privadas. É visível que a escola é indiferente à população negra, pois continuam sustentando uma história falsa pautada em um comodismo e uma aceitação a respeito da escravidão por parte da população negra, ou a todo momento tentam fazer com que os alunos acreditem que vivem em um país igualitário.
A Lei nº 10.639 surge para possibilitar a formação da identidade da população negra e com isso elevar a autoestima, pois saber que sua história foi marcada de luta e resistência têm forte significância não somente para a formação da população negra, mas também para a criança não negra, pois essa aprenderá a respeitar a diversidade histórica do país.
Contudo, acredito que só a implementação não basta. É preciso uma formação constante para os professores sobre a História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e uma fiscalização também, pois nenhum educador é neutro e ao adentrar a sala de aula levo minhas verdades e meus valores também, por isso o educador precisa estar bem seguro sobre o que vai dizer.
Bikodisse: Como foi para você participar do Projeto Conexão Direta com o Futuro (parceria entre os Instituto Steve Biko e Nextel)? Que aprendizados pode nos contar sobre essa experiência?
Manuela Barbosa: Essa experiência para mim foi muito especial, pois foi através dessa que pude desenvolver-me enquanto profissional. Entrei no Instituto em 2009 na função de estagiária, mesmo ainda sendo estudante, as pessoas que faziam parte do processo confiavam muito em mim e tratavam-me com apreço.
No final de 2009 conclui a faculdade e não poderia mais ser estagiária daí confiaram-me à disciplina de “Acesso a Bens Culturais”, ministrando essa disciplina convivi com muitos alunos e pude reviver um pouco minha trajetória na Biko através da história e do desenvolvimento de cada um.
Foi por meio dessa confiança que aprendi a ser educadora e ter mais certeza no que faço enquanto profissional.
Bikodisse: Qual a contribuição da “Pedagoga Manuela” para a ONG Bahia Street?
Manuela Barbosa: No Bahia Street sou a pedagoga Manuela Barbosa, mas acima de tudo sou
Manuela Barbosa moradora de um bairro humilde, pertencente a família também humilde. Acredito que o importante nesse trabalho que desenvolvo é que muitas vezes o pessoal e o profissional caminham juntos, dessa forma consigo sentir melhor o que as educandas do projeto vivenciam, ou seja, a opressão.
Trabalhar no Projeto Bahia Street para mim é um presente. Observo e luto diariamente para tentar modificar através da educação a realidade de cada educanda. Não é uma tarefa fácil, já que o processo de segregação no Brasil foi muito perverso e nos fez acreditar que o problema é nosso e tentar reverter isso muitas vezes é frustrante e doloroso, pois requer muita sensibilidade e uma vontade extrema que dê certo.
Contudo, saber que já estive na mesma situação e que consegui mudar porque acreditaram em mim é muito mais forte do que qualquer problema e isso me impulsiona a continuar tentando, pois como diria Malcolm X : "O homem branco quer que os homens pretos permaneçam imorais, depravados e ignorantes. Enquanto permanecermos nessas condições, continuaremos a suplicar, e o homem branco nos controlará. Jamais poderemos conquistar liberdade, justiça e igualdade enquanto não estivermos fazendo por nós mesmos."
No Brasil dezenas de milhares de negros e simpaizantes protestam Movimentos Negros Brasileiros fizeram protestos de desagrado contra famoso cantor e sambista Martinho da Vila, Escola de Samba Unidos de Vila Isabel que neste carnaval de 2012, no enredo “Você Semba Lá… Que Eu Sambo Cá. do povo brasileiro) que nos versos O Canto Livre de Angola!”. Com uma exaltação maravilhosa a ANGOLA a pátria mãe da maioria (54% tem sangue africano-angolano em nossas aveias. Samba Enredo da Vila Isabel(O para Presidente Wilson Vieira Alves a carnavalesca Rosa Magalhães e principalmente o Presidente de Honra: Martinho José Ferreira o “Martinho da Vila” que se negaram a ouvir e atender as reclamações dos milhares de e-mails, cartas e ligações telefônicas e celulares para sensibilizar esses dirigentes. que seria um desprestígio para comunidade negra feminina serem excluídas as frente da bateria da Vila Isabel colocando uma rainha nipo-brasileira (japonesa) e uma musa loira, com respeito a elas, mas porque não por uma negra também e por coerência ao enredo exaltava a raça negra e negritude cultural África Angola Brasil. Apesar de todos esforços não foram suficientes par conscientizar estes dirigentes é lamentável que as crianças a juventude a mulher afro brasileira sofram estes preconceitos excluídas marginalizadas , humilhadas por aqueles que dizem ser defensores e nossos ídolos. Martinho da Vila é uma vergonha e covardia, muito obrigado pelo desserviço ao resgate e valorização da raça negra.Rei Martinho Ganga Zumba da Vila? mariana.jornalista@bol.com.br
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