quarta-feira, 27 de julho de 2011

Bikodisse Entrevista: João Paulo






Bikodisse: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória antes do ingresso no Consorcio da Juventude.

João Paulo: Antes de participar do Consórcio da Juventude minha trajetória foi um processo consecutivo de boas iniciativas promovidas por organizações sociais públicas e privadas que me proporcionaram aprendizados que despertaram em mim uma maturidade e uma consciência de direito, levando-me a aproveitar todas as oportunidades que a vida me deu, especialmente as de acesso ao conhecimento.

Estes aprendizados adquiridos em outras organizações permitiram-me chegar ao Instituto com clareza do que queria. Eu sabia mais ou menos o que precisava fazer para alcançar as minhas humildes metas, que eram concluir o ensino médio e conseguir um emprego de carteira assinada para ajudar em casa, mas naquela época eu tinha uma frágil “identidade racial”.

Ao longo do processo do Consórcio, no qual era aluno do Curso de Mobilizador Social, fui levado pelos educadores, por meio de debates muito acalorados -o que é padrão para atividades formativas da Biko e outras atividades educativas-, a questionar minha identidade racial, que até então era de mestiço, e superar o processo de autossabotagem que o racismo havia incutido em mim, ao longo da minha vida.

A vivência junto a Biko me deixou como legado a autoconfiança e a segurança para alçar novos voos e ter a plena certeza de concretizá-los, pois a Biko através do Consórcio possibilitou-me a proximidade com pessoas como Cosme, Vilma Reis, Valdo Lumunda, Samuel Vida, Valdecir Nascimento, Hamilton Borges, que com os seus exemplos e histórias de vida mostraram-me que era possível chegar onde eles haviam chegado, e fazer como eles; tirar a população negra da condição de exceção para torná-la regra. Foi também graças a essas influências que me transformei num jovem negro compromissado com a superação do machismo, do racismo e da homofobia


Bikodisse: Antes de ingressar no Instituto Steve Biko você já havia participado de outro grupo ou ONG? Quais? De que forma?

João Paulo: Tive a oportunidade de fazer parte do CRIA (Centro de Referência Integral para Adolescentes), inicialmente como jovem ator e depois como monitor. Fui Conselheiro do MIAC (Movimento de Intercambio Artístico Cultural Pela Cidadania) pela Fundação Cidade Mãe - Empresa Educativa de Roma, a primeira organização em que fui “atendido”, sendo a mesma uma das mais significativas em minha história, por dar-me condições de transpor o muro visível que circundava minha comunidade e me apresentar o mundo. Sei que para alguns, isso podo parecer besteira, mas informo que ainda existem jovens que sequer saem das fronteiras de sua comunidade e que não têm condições de conhecer a cidade em que vivem.

Aproveito para externar minha preocupação com esta OSP (Organização Social Pública) Fundação Cidade Mãe, que na atual gestão da prefeitura de Salvador, encontra-se com suas unidades socioeducativas sucateadas, o que a meu ver, é um grande prejuízo para as crianças e adolescentes moradores dessas comunidades, especialmente para a comunidade na qual resido que é Itapagipe.

Bikodisse: Como foi seu relacionamento com a Biko durante esse tempo? O que faz
atualmente no ICSB?

João Paulo: Depois de terminar o Consórcio Social da Juventude, e por ter conseguido um estágio na época na Caixa Econômica Federal e estar no ano final de conclusão do ensino médio, passei a ficar com pouco tempo, assim participava de uma atividade ou outra promovida pelo Instituto.

Em 2007, se não me falha a memória, fui representante do GRUCON-BA (Grupo de União e Consciência Negra) na Subcomissão de Juventude e Reflexão a Violência da CAMMPI (Comissão de Articulação dos Moradores da Península de Itapagipe), a qual realizava um curso de formação política em parceira com ISPAC, tendo como uma das facilitadoras Nádia, que coordenava na época o núcleo de antirracismo e direitos humanos da Biko. Ela então fez um convite a mim e a outro irmão de militância chamado Ismael, para nos incorporamos ao núcleo, foi quando voltei para a Biko.

Dentro do Núcleo de Antirracismo e Direitos humanos, por meio de um projeto de mapeamento das violações de direitos, em especial aqueles referentes aos fatores raciais e de gênero, apoiado na época pelo Fundo Brasil de Direitos, tive a experiência de levar a discussão sobre DH do centro para as comunidades periféricas de Salvador, fazendo um diálogo com estas comunidades, que objetivava, além de informar, empoderar as mesmas sobre como ter acesso ao sistema nacional e internacional de direitos humanos, e como estas comunidades poderiam usar os mesmos para denunciar as violações de direito que estavam sofrendo. Um dos grandes baratos desta experiência é que a BIKO apresenta para a cidade uma nova forma de discutir direitos humanos associado ao antirracismo, tendo os jovens neste processo não mais como beneficiários, mas como sujeitos, executores, sem falsa modéstia, bons executores.

Não muito tempo depois o Instituto Steve Biko, recebeu o convite, por meio da coordenadora do Núcleo de Antirracismo e DH, Nádia, de ficar responsável pelo desenvolvimento da metodologia e execução do processo educativo do PROGREDH, quando mais uma vez a Biko aposta na juventude, colocando na mão da mesma o importante papel de formar 500 jovens oriundos de inúmeras escolas municipais de Salvador, além de fazer com que estes jovens desenvolvessem ações ligadas aos direitos humanos, antirracismo e equidade dentro das escolas.

Estas duas experiências dentro do instituto fortaleceram meus laços com as organizações e firmaram em mim o compromisso de, cada vez mais, contribuir para que essas ações se propaguem.


Bikodisse: Em outras edições da Bikodisse, @s entrevistad@s relataram a importância da disciplina CCN (Cidadania e Consciência Negra) em suas vidas. Com eram as aulas de CCN na época que você estudou no Consorcio da Juventude? Que importância essas aulas tiveram na elevação de sua autoestima e formação política?

João Paulo: Pergunta muito interessante, primeiro porque permite-me fazer alguns esclarecimentos sobre o CCN dentro do Consórcio.

Dentro do Consórcio não tive a disciplina CCN, mas sim outra chamada Equidade, que tem alguns conteúdos muito parecidos com CCN. No entanto, a matéria equidade vai muito mais além, o que, para mim, foi uma grande sacada das organizações envolvidas na execução das primeira turma do Consórcio em Salvador, por esta ter colocado na pauta da formação de jovens para o primeiro emprego, a necessidade de preparar os mesmos para o respeito às diversidades. Acredito que esta iniciativa poderia contribuir muito para a redução do preconceito e discriminação.

Destaco também neste processo de consórcio o importante papel que a Biko teve, pelo que lembro, enquanto única organização membro do 1º Consorcio ligada ao movimento negro, para incluir na grade da disciplina de Equidade às questões raciais.

Ah, quase ia terminar de responder esta pergunta sem diferenciar as disciplinas de CCN e Equidade. Então, CCN trabalha as questões raciais e de gênero, e Equidade trabalha as questões raciais e de gênero, além de acessibilidade.



Bikodisse: Quais os principais motivos para a escolha do seu curso de graduação? O que motivou o seu interesse em ingressar na Universidade?

João Paulo: Hoje sou estudante do curso de Pedagogia (6º semestre – EAD) o qual sempre admirei, mas mesmo dentro da universidade ainda sinto-me academicamente incompleto, por estar no movimento social e necessitar de algumas ferramentas que o curso de Pedagogia não ofertava. Por isso, em 2009 matriculei-me no curso de Serviço Social para suprir esta necessidade.


Bikodisse: O Instituto Steve Biko tem a visão de constituir-se numa Instituição de Ensino Superior (IES) em 2012. Como você se vê nesse processo?

João Paulo: Vejo-me, assim como outr@s bikud@s, como colaborador deste processo. Hoje temos muito a comemorar, pois já conseguimos o espaço tão almejo para a implantação da IES.


Bikodisse: Como se dá sua contribuição para movimento de economia solidária? Você acredita que a economia solidária sofreu/sofre alguma(s) influência (s) das religiões de matriz africana? De que forma?

João Paulo: A contribuição que venho dando à economia solidária é fazer com que ela não fique sendo pautada entre os mesmo, e que outros movimentos e organizações a tenham como uma das suas estratégias, por ela não ser fim, mas sim meio para viabilizar as conquistas.
Um dos desafios hoje, no papel novo que estou ocupando enquanto coordenador executivo do Coletivo Para Promoção de Práticas Solidárias Casa de Taipa, ONG de assessoria, consultoria e formação fundada por um grupo de jovens ex-bikudos e membros de empreendimentos de Economia Solidária, é fazer com que a comunidade negra consiga não ter só o empreendedorismo, mas também a Ecosol como caminho. Embora não tenha nada contra ao empreendedorismo, percebo que o mesmo só nos coloca no círculo do capitalismo, do individualismo, da exploração, que a meu ver vem minando um número significativo de iniciativas de geração de trabalho e renda da comunidade negra.

Sobre a pergunta de que a Ecosol sofre influência das práticas cooperativas das religiões de matriz africana; sem sombra de dúvidas, e de outras como as irmandades negras que mobilizavam dinheiro para comprar a liberdade de outros escravizados, os quilombos enquanto experiências de autogestão do trabalho em cooperativas, mais para frente temos as experiência dos nossos irmãos negros americanos, com o movimento Black Power que fomentava dentro da comunidade negra, a prática de uma coisa que a economia solidária chamava de consumo consciente, só se comprava em estabelecimentos que fortalecessem a causa da superação do racismo. Esta iniciativa permitiu a circulação do dinheiro dentro da comunidade, fortalecendo com isso a economia local, o que é um dos princípios que a Ecosol prega.

Bikodisse: Fale-nos um pouco sobre a sua participação na elaboração e implementação do Projeto SOS Sustentabilidade.

João Paulo: Para falar sobre minha participação na elaboração e implementação do Projeto SOS Sustentabilidade acredito que é necessário primeiro falar o que é o mesmo. O SOS Sustentabilidade é um projeto de incubação de empreendimentos solidários das comunidades do Tororó em Base Naval e Santana em Ilha de Maré, ligados a cadeia de pesca e do artesanato do bordado de bilro, fruto da cooperação técnica do Coletivo Para Promoção de Práticas Solidárias Casa de Taipa, Espaço Quilombo e o Instituto Steve Biko.

Dentro desta Cooperação técnica ficou a cargo da Casa de Taipa, no processo de elaboração do desenho da metodologia de incubação que seria aplicada no projeto, o desenvolvimento desta metodologia. Agora, no processo de implementação sou Gerente de Incubação da mesma, estando sobre a responsabilidade da Biko a gestão financeira e administrativa do projeto, além das construções estratégias e pedagógicas para fortalecimento e resgate da história das comunidades quilombolas urbanas. Cabe ao Espaço Quilombo a responsabilidade do processo de monitoramento ambiental e assistência aos empreendimentos da cadeia de pesca e mobilização comunitária.

De acordo com o aprendizado acumulado nestes quatro meses de execução da incubadora SOS Sustentabilidade, acredito que ao final do projeto vamos deixar um bom legado de experiências para que outras entidades ligadas ao movimento negro possam tomá-lo como referência nas suas ações de geração de trabalho e renda.

Bikodisse Entrevista: Manuela Barbosa







Bikodisse: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória educacional antes do ingresso no pré-vestibular Steve Biko.

Manuela Barbosa: Minha trajetória educacional foi conturbada e impulsionadora ao mesmo

tempo. Iniciei os estudos em uma escola particular de pequeno porte e na mesma cursei todo o ensino fundamental I. Após esse período adentrei ao sexto ano do ensino fundamental II, em uma escola particular de grande porte, mas fui reprovada, pois não possuía os livros solicitados, e por isso apresentava muita dificuldade na compreensão dos assuntos.
Por causa da reprovação, no ano seguinte fui matriculada na Escola Estadual Classe III para repetir o sexto ano, mas adquiri uma doença óssea e por conta dessa comecei a andar de muletas. Por causa da enfermidade e do uso contínuo das muletas, recebia muitos apelidos dos colegas e como não sabia lidar bem com tal situação, pedi a minha família para ficar um tempo sem estudar e eles aceitaram.
Fiquei um ano e meio afastada da escola. Nesse processo de afastamento fiz cirurgia, fisioterapia e me recuperei tanto fisicamente quanto emocionalmente, após isso voltei para a mesma escola muito mais segura então pude concluir o ensino fundamental II.
Já o ensino médio foi mais tranqüilo. Estudei na Escola Estadual Marquês de Maricá do primeiro ao terceiro ano do ensino médio, todos esses três anos foram bastante satisfatórios, pois estudei e comecei a trabalhar informalmente, essa experiência me fez traçar metas e adquirir uma vontade de me desenvolver. Por isso, antes de finalizar o último ano comecei o cursinho no Instituto Steve Biko.

Bikodisse: Antes de ingressar no Instituto Steve Biko você já havia participado de outro grupo ou ONG? Quais? De que forma?

Manuela Barbosa: Antes do Instituto Steve Biko nunca havia participado de nenhum grupo ou ONG.

Bikodisse: Quando e como começou sua história na Biko? Enfrentou alguma dificuldade para cursar as aulas do pré-vestibular? Qual (is)?

Manuela Barbosa: Minha história no Instituto Steve Biko começou em julho de 2004. Nesse ano cursava o terceiro ano do ensino médio e não tinha muito conhecimento do que era um pré-vestibular e uma faculdade, pois vivia o mundo do meu bairro onde a realidade “comum” é finalizar o ensino médio e trabalhar, faculdade era uma realidade muito distante.
Porém, na minha escola havia uma educadora de Língua Portuguesa chamada Lúcia Marçal que sempre apresentava questões sociais problematizando o nosso futuro pós ensino médio. Essas aulas tiveram um valor imenso para mim, sendo que comecei realmente a pensar o que iria fazer quando concluísse o ensino médio.
Por ironia do destino, nesse período conheci Carina Reis que já havia sido estudante Biko e em uma conversa falou-me um pouco do Instituto, explicando-me o que era um pré-vestibular e me incentivando a fazer a seleção do mesmo. A princípio fiquei temerosa, pois o curso era à noite e eu não tinha experiência em sair nesse turno, havia também o pagamento e eu não tinha dinheiro. Sabia que iria enfrentar essas dificuldades e então resolvi pedir ajuda.
Lembro-me de ter conversado com Carina e explicado meus temores e ela me estimulou a conversar com meu tio e assim o fiz. O mesmo permitiu que eu fizesse a seleção e disse que pagaria o curso. Assim, participei da seleção, fui aprovada e comecei minha trajetória de bikuda.
No ano de 2004 não passei no vestibular, mas ganhei verdadeiros amigos e o mais interessante, conheci muitos lugares em salvador. Como não havia sido aprovada em 2004 resolvi fazer uma nova seleção em 2005 e fui aprovada, contudo havia um grande problema, meu tio não ia mais poder pagar o cursinho e como eu não era mais estudante do ensino regular, não possuía mais o cartão de meia passagem, o que dificultava ainda mais a situação.
Então resolvi conversar com Mário que na época era diretor financeiro da Biko, expliquei meu problema e ele fez um acordo comigo, dando um prazo para que eu pagasse o cursinho quando eu começasse a trabalhar. Achei essa credibilidade de muita importância, pois queria muito estar no instituto e foi por isso que comecei a dar banca e assim pude não só pagar as mensalidades, como meu transporte também.
Nesse mesmo ano passei no vestibular para Pedagogia.

Bikodisse: Como foi seu relacionamento com a Biko durante esse tempo? O que faz atualmente no ICSB?


Manuela Barbosa: Meu relacionamento com a Biko sempre foi ótimo. Nesse espaço sempre me senti respeitada e acreditada.
O Instituto Steve Biko durante todo o momento me possibilitou coisas positivas, pois lá fiz amigos-irmãos, adquiri conhecimento sobre minha ancestralidade, e assim fortaleci minha autoestima o que considero de suma importância para qualquer ser humano.
Atualmente faço parte do Núcleo de Tecnologia Educacional (NUTE). No ano de 2006 após entrar na faculdade Olga Mettig fui convidada por Jucy Silva para fazer parte desse núcleo, onde obtive uma experiência profissional enorme ao conviver com profissionais da minha área e por vivenciar o cotidiano de uma instituição educacional. Tal experiência me fortalece até hoje.

Bikodisse: Em outras edições da Bikodisse, @s entrevistad@s relataram a importância da disciplina CCN (Cidadania e Consciência Negra) em suas vidas. Com eram as aulas de CCN na época que você estudou no Pré-vestibular Steve Biko? Que importância essas aulas tiveram na elevação de sua autoestima e formação política?

Manuela Barbosa: Essa aula é muito especial! Para mim essa disciplina é tão importante quanto as outras necessárias para o vestibular.
No ano de 2004 tive o privilégio de ter Silvio Humberto como professor dessa disciplina, porém era muita informação nova que contrariava minha realidade e isso me fez entrar em conflito comigo, e até mesmo com os conteúdos que eram trabalhados, o que me fazia negar o que era apresentado.
Já no ano seguinte, como estava mais madura, pude não só ouvir o que era dito, mas também comecei um processo de pesquisa sobre algumas personalidades negras e isso foi de extrema importância para mim, sendo que foi através dessa investigação que adquiri criticidade a respeito da problemática racial.
Acredito que o CCN cria situações desafiadoras para vida, pois essa aula possibilita um processo de recriação do “eu”, mas um “eu” muito mais seguro e confiante em si mesmo, no entanto é necessário estar aberto para o novo e ir em busca também das suas verdades.

Bikodisse: Quais os principais motivos para a escolha do seu curso de graduação? O que motivou o seu interesse em ingressar na Universidade?

Manuela Barbosa: Na verdade não escolhi. Pensei em várias profissões como historiadora, jornalista, socióloga e advogada. Lembro-me de ter feito o vestibular para pedagogia por que a inscrição estava barata, mas nem sabia direito do que se tratava o curso. Tinha em mente que necessitava entrar na universidade por saber que era uma maneira de melhorar minha vida, pois a faculdade representava um acesso mais rápido ao mercado de trabalho e com muito mais qualidade.
Porém, hoje sei que nasci para ser pedagoga, amo minha profissão e só faço algo para aperfeiçoá-la. A educação transforma seres humanos.

Bikodisse: O Instituto Steve Biko tem a visão de constituir-se numa Instituição de Ensino Superior (IES) em 2012. Como você se vê nesse processo?

Manuela Barbosa: Parafraseando Martin Luther King, ouso-me a escrever que: Eu tenho um sonho de que, um dia, meus filhos estudarão em uma universidade onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas sim, pelo conteúdo de seu caráter. Isso me deixa muito mais feliz!
Posso denominar isso de um salto pedagógico que eu quero, que nós queremos. Um lugar que venha ao encontro de nossos anseios, ou seja, um sistema educacional que promova a formação de uma mentalidade social mais justa e que possibilite a formação de um conhecimento racial verdadeiro.
Poder fazer parte desse processo para mim é especial. Acredito que posso contribuir de diversas maneiras, seja ministrando aulas ou ajudando na construção do plano de trabalho , ou seja, quero e vou colaborar de alguma amaneira.

Bikodisse: Qual sua opinião sobre a Lei 10.639/03 e que tipo de avaliação pode fazer sobre sua implementação.

Manuela Barbosa: Acho de grande importância a implementação da Lei nº 10.639 no currículo das escolas públicas e privadas. É visível que a escola é indiferente à população negra, pois continuam sustentando uma história falsa pautada em um comodismo e uma aceitação a respeito da escravidão por parte da população negra, ou a todo momento tentam fazer com que os alunos acreditem que vivem em um país igualitário.
A Lei nº 10.639 surge para possibilitar a formação da identidade da população negra e com isso elevar a autoestima, pois saber que sua história foi marcada de luta e resistência têm forte significância não somente para a formação da população negra, mas também para a criança não negra, pois essa aprenderá a respeitar a diversidade histórica do país.
Contudo, acredito que só a implementação não basta. É preciso uma formação constante para os professores sobre a História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e uma fiscalização também, pois nenhum educador é neutro e ao adentrar a sala de aula levo minhas verdades e meus valores também, por isso o educador precisa estar bem seguro sobre o que vai dizer.

Bikodisse: Como foi para você participar do Projeto Conexão Direta com o Futuro (parceria entre os Instituto Steve Biko e Nextel)? Que aprendizados pode nos contar sobre essa experiência?

Manuela Barbosa: Essa experiência para mim foi muito especial, pois foi através dessa que pude desenvolver-me enquanto profissional. Entrei no Instituto em 2009 na função de estagiária, mesmo ainda sendo estudante, as pessoas que faziam parte do processo confiavam muito em mim e tratavam-me com apreço.
No final de 2009 conclui a faculdade e não poderia mais ser estagiária daí confiaram-me à disciplina de “Acesso a Bens Culturais”, ministrando essa disciplina convivi com muitos alunos e pude reviver um pouco minha trajetória na Biko através da história e do desenvolvimento de cada um.
Foi por meio dessa confiança que aprendi a ser educadora e ter mais certeza no que faço enquanto profissional.

Bikodisse: Qual a contribuição da “Pedagoga Manuela” para a ONG Bahia Street?


Manuela Barbosa: No Bahia Street sou a pedagoga Manuela Barbosa, mas acima de tudo sou
Manuela Barbosa moradora de um bairro humilde, pertencente a família também humilde. Acredito que o importante nesse trabalho que desenvolvo é que muitas vezes o pessoal e o profissional caminham juntos, dessa forma consigo sentir melhor o que as educandas do projeto vivenciam, ou seja, a opressão.
Trabalhar no Projeto Bahia Street para mim é um presente. Observo e luto diariamente para tentar modificar através da educação a realidade de cada educanda. Não é uma tarefa fácil, já que o processo de segregação no Brasil foi muito perverso e nos fez acreditar que o problema é nosso e tentar reverter isso muitas vezes é frustrante e doloroso, pois requer muita sensibilidade e uma vontade extrema que dê certo.
Contudo, saber que já estive na mesma situação e que consegui mudar porque acreditaram em mim é muito mais forte do que qualquer problema e isso me impulsiona a continuar tentando, pois como diria Malcolm X : "O homem branco quer que os homens pretos permaneçam imorais, depravados e ignorantes. Enquanto permanecermos nessas condições, continuaremos a suplicar, e o homem branco nos controlará. Jamais poderemos conquistar liberdade, justiça e igualdade enquanto não estivermos fazendo por nós mesmos."

Bikodisse Entrevista: Julio Cesar




Bikodisse: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória educacional antes do ingresso no pré-vestibular Steve Biko.

Julio Cesar: Quando tinha dois meses de idade fui com meus pais para o Rio, onde fui criado e educado. Fiz todo meu ensino fundamental no Instituto Irajá, e aos dezesseis anos de idade, retornei à Salvador e fiz o nível médio no colégio Nossa Senhora Aparecida, nos Barris, que por sinal ficava em frente a uma antiga sede do ICSB

Bikodisse: Antes de ingressar no Instituto Steve Biko você já havia participado de outro grupo ou ONG? Quais? De que forma?

Julio Cesar: Nunca tive a oportunidade de participar de uma ONG.

Bikodisse: Quando e como começou sua história na Biko? Enfrentou alguma dificuldade para cursar as aulas do pré-vestibular? Qual (is)?


Julio Cesar: Minha história começou após sete anos do término do meu nível médio. Ainda não tinha muita expectativa de qual rumo seguir na vida por não ter referências em casa de familiares que fizessem faculdade. Meu tio Juraci Tavares era sócio-colaborador do Instituto e perguntou se eu não queria estudar novamente, aceitei na hora, então ele e minha tia Elizabeth, sua esposa, custearam as mensalidades do curso. Gostaria de agradecê-los pela oportunidade de conhecer a Biko.

Bikodisse: Como foi seu relacionamento com a Biko durante esse tempo? O que faz atualmente no ICSB?

Julio Cesar: Estudei durante dois anos na Biko, tinha muita vontade de estar mais presente na vida do Instituto. Em 2009 Jucy me falou que tinha uma vaga de professor de inglês em aberto, fui conferir então me apaixonei pelo trabalho. Hoje continuo a dar aula, coisa que faço como muito amor.

Bikodisse: Em outras edições da Bikodisse, @s entrevistad@s relataram a importância da disciplina CCN (Cidadania e Consciência Negra) em suas vidas. Com eram as aulas de CCN na época que você estudou no Pré-vestibular Steve Biko? Que importância essas aulas tiveram na elevação de sua autoestima e formação política?

Julio Cesar: As aulas de CCN foram um divisor de águas na minha vida, porque até então minha
autoestima estava baixa. Fui diversas vezes discriminado por colegas e por uma professora quando ainda estudava no Rio de Janeiro. Essa professora um dia me disse uma frase terrivelmente preconceituosa, e eu na época não sabia reagir e não entendia o porquê do preconceito. As aulas de CCN da Biko eram muito bem conduzidas e sempre deixavam um gosto de quero mais.

Bikodisse: Quais os principais motivos para a escolha do seu curso de graduação? O que motivou o seu interesse em ingressar na Universidade?

Julio Cesar: Sempre admirei muito a profissão de professor e sempre tive paciência para ensinar, aliado a isso também sempre gostei da língua inglesa e dos ícones da cultura negra americana como Michael Jackson e Louis Armstrong. Então decidi que queria fazer língua inglesa na faculdade, pois teria nível superior, aliado ao aprendizado da língua.

Bikodisse: O Instituto Steve Biko tem a visão de constituir-se numa Instituição de Ensino Superior (IES) em 2012. Como você se vê nesse processo?

Julio Cesar: É uma expectativa muito grande, poder ajudar na concretização desse sonho tão almejado, que graças a Deus, vai acontecer. Quero ter participação ativa nesse processo.

Bikodisse: Como é para você ministrar aulas de Inglês no Pré-vestibular Steve Biko? De que forma as aulas de inglês podem contribuir para conscientização étnica e elevação da autoestima da juventude negra?

Julio Cesar: Pra mim é uma alegria muito grande saber que agente pode dividir nosso conhecimento com outras pessoas. Ao mesmo tempo em que auxilio os estudantes, também aprendo e pratico a língua, a qual infelizmente muitos não têm acesso. A língua inglesa é falada em muitos países do continente africano, a exemplo da Nigéria, além disso, é a língua falada por muitos ícones do movimento negro estadunidense como Martin Luther King ( meu ídolo) e Rosa Parks. Meu grande desejo é que nossa juventude possa estar qualificada para usufruir das benesses de se saber uma segunda língua.

Bikodisse: Você já fez algum tipo de intercâmbio com países de língua inglesa? O que fez ou pretende fazer?

Julio Cesar: Eu nunca tive a oportunidade de fazer intercâmbio em países de língua inglesa. Seria ótimo eu ter essa experiência um dia, pois poderia aperfeiçoar o inglês. Quero fazer sim, sem dúvida.

Bikodisse: Você pode deixar algumas dicas de livros, site e vídeos para as pessoas que querem iniciar um estudo na língua inglesa?

Julio Cesar: Vou deixar algumas dicas de livros que podem ajudar o estudante a aprender a língua: The good Grammar book da editora Oxford e o New interchange da Cambridge são dois bons materiais, além de sites como o: livemocha.com. Escutar músicas internacionais e assistir aos filmes na língua original também ajuda muito.




segunda-feira, 18 de julho de 2011

100 Filmes Que Você Precisa Assistir (Por Márcio Paim)

Durante a entrevista para o Bikodisse, o Historiador Márcio Paim deixou para tod@s @s Bikud@s uma lista de 100 filmes que ele indica por tratarem de questões raciais e históricas.

Vale à pena conferir. Boa sorte!


  1. MALCOLM – X
  2. UM GRITO DE LIBERDADE (A HISTÓRIA DE STIVE BIKO)
  3. PANTÉRAS NEGRAS (BLACK PANTER)
  4. A COR PÚRPURA
  5. MISSISSIPI EM CHAMAS
  6. A OUTRA FACE AMERICANA
  7. BELEZA AMERICANA (EXCELENTE CRÍTICA AO CAPITALISMO)
  8. ASOKA (A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO INDIANO)
  9. SPARTACUS
  10. ALEXANDRE, O GRANDE
  11. TRÓIA
  12. MEU NOME É RÁDIO
  13. OS ACORRENTADOS
  14. FRIDA
  15. DIÁRIO DE MOTOCICLETA (A EXCURSÃO DE CHE GUEVARA NA AMÉRICA LATINA)
  16. O HOMEM QUE COPIAVA
  17. DIÁRIO DE UMA LOUCA (EXCELENTE FILME)
  18. CLEÓPATRA
  19. FIDEL
  20. RAY (A HISTÓRIA DE RAY CHARLES)
  21. PATRICE LUMMUMBA (SEM TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS)
  22. FAÇA A COISA CERTA – SPIKE LEE
  23. FEBRE NA SELVA – SPIKE LEE
  24. DO QUE AS MULHERES GOSTAM
  25. JULIO CÉSAR
  26. CALÍGULA
  27. ALEIJADINHO
  28. CARANDIRU
  29. SHAFT (SAMUEL JACKSON)
  30. FILADÉLFIA
  31. CIDADE DE DEUS
  32. OS SETE PECADOS CAPITAIS
  33. OLGA
  34. DOMÉSTICAS
  35. ALÍ, O ETERNO
  36. O POÇO E O PÊNDULO (SOBRE A HISTÓRIA DA INQUISIÇÃO)
  37. LUTERO (TAMBÉM SOBRE A HISTÓRIA DA INQUISIÇÃO)
  38. CONDE DE MONTE CRISTO
  39. HUNRRYCANE, O FURACÃO (DENZEL WASHINGTON)
  40. HOTEL RUANDA
  41. FOREST GUMP, O CONTADOR DE HISTÓRIAS
  42. PEAL HABOR (HISTÓRIA DO BOBARDEIO JAPONÊS À BASE AMERICANA)
  43. NA ROTA DOS ORIXÁS
  44. QUILOMBOS DA BAHIA (ANTÔNIO OLAVO)
  45. A LISTA DE SCHINDLER
  46. O APRENDIZ
  47. COACH CARTER (SAMUEL JACKSON)
  48. OSAMA (SOBRE O REGIME TALIBÃ NO AFEGANISTÃO)
  49. TIROS EM COLUMBINE (MICHAEL MOORE)
  50. FIRERIGHT (MICHAEL MOORE)
  51. PELÉ, O ETERNO
  52. UM ATO DE CORAGEM (DENZEL WASHINGTON)
  53. PAIXÃO DE CRISTO (MEL GIBSON)
  54. TODOS ABORDO
  55. GLADIADOR
  56. UMA MENTE BRILHANTE
  57. AUGUSTUS
  58. DEUS É BRASILEIRO (COM ANTÔNIO FAGUNDES)
  59. VOLTANDO A VIVER (DENZEL WASHINGTON)
  60. HOMENS DE HONRA
  61. AMISTAD
  62. A QUEDA (AS ÚLTIMAS HORAS DE HITLER)
  63. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.
  64. CHAMAS DA VINGANÇA (DENZEL WASHINGTON)
  65. SARAJEVO (A HISTÓRIA DA GUERRA DA BÓSNIA)
  66. O PIANISTA
  67. GLAUBER O FILME, LABIRINTO DO BRASIL
  68. A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO
  69. AS INVASÕES BÁRBARAS
  70. AS CRUZADAS
  71. BLUMAS DE AVALON
  72. JOANA D’ARC
  73. REDENÇÃO
  74. A PROCURA DA FELICIDADE
  75. FALA TU
  76. ELAS ME ODEIAM , MAS ME QUEREM. (SPIKE LEE).
  77. NASCIDOS EM BORDÉIS.
  78. NAUREMBERG
  79. CRASH, NO LIMITE.
  80. MAR ADENTRO.
  81. BAGDÁ CAFÉ
  82. 8 MILES
  83. EM MINHA TERRA
  84. LONDON.
  85. CÓDIGO DAS RUAS (SPIKE LEE)
  86. O JARDINEIRO FIEL
  87. A FAMÍLIA DA NOIVA
  88. O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN.
  89. PLANO PERFEITO (SPIKE LEE).
  90. BUENA VISTA SOCIAL CLUB
  91. XÁLA (SEMBENE OUSMANE)
  92. CEDDO (SEMBENE OUSMANE)
  93. CAMP THYAROY (SEMBENE OUSMANE)
  94. EMITAI (SEMBENE OUSMANE)
  95. FILHAS DO VENTO
  96. TIROS EM RUANDA
  97. AOS OLHOS DE DEUS
  98. ESTRADA PARA GLÓRIA.
  99. DIAMANTE DE SANGUE
  100. O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Bikodisse Entrevista - Márcio Paim



Bikodisse: O que você pensa sobre a criação da Faculdade Steve Biko (FSB)? Como você se vê nesse processo de construção filosófica da (FSB)?


Penso que a criação da Faculdade Steve Biko é uma iniciativa ímpar. Analisando simbolicamente, a criação de uma Faculdade voltada para o atendimento das demandas das populações afrodescendentes, em um país que é o maior em número de negros fora do continente africano e um estado que também se destaca pela predominância do seu contingente negro, sem dúvidas, possui o impacto (iniciativa) política marcante. A criação da Faculdade Biko, somadas ao já consolidado Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (CEAO/UFBA), seria a consolidação de mais um espaço público – dentre os poucos existentes no nosso estado - de difusão de conhecimentos no campo das relações raciais. Penso que a iniciativa de criar uma Faculdade, partindo de uma instituição consolidada como a Steve Biko, forçaria uma centralização dos estudos africanos e da diáspora, ou seja, em uma Faculdade, a História da África e os estudos africanos, seriam o foco central e não uma disciplina “optativa” como acontece em muitas grades curriculares de variadas Faculdades do país. É isso que me refiro à centralização da História da África e dos estudos africanos em um centro de ensino superior. Essa centralização possui uma importância sem precedentes, principalmente, se considerarmos o contexto político das relações raciais no início dos anos 2000. Acredito que uma iniciativa como esta, também é a possibilidade de perceber a maturidade política do movimento social negro. Acredito que essa maturidade política, hoje, ao propor a criação da faculdade, perpassa os alunos que fizeram parte dessa instituição desde sua fundação. É dessa forma que vejo minha inserção nesse processo de construção filosófica da Biko. Como ex-aluno da Biko estou filosoficamente maduro, já que me perguntou em termos filosóficos.


Bikodisse: Nos próximos meses você irá concluir o mestrado no Pós – UFBA (Pós-Afro). Qual sua linha de pesquisa e de que forma pretende dar continuidade aos estudos que desenvolve?




Exatamente. Embora o Programa do qual faço parte seja um Programa Multidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos, estou mais próximo dos estudos africanos do que da questão étnica, mesmo reconhecendo que é indissociável dos estudos africanos. O foco da minha pesquisa inicial foi à cobertura do Conflito de Darfur pela Folha de São Paulo (1989-2001). Devido alguns problemas metodológicos, após o exame de qualificação, tive que redimensionar toda minha pesquisa e incluir outras temáticas, a exemplo dos editoriais. Agora tenho de esquadrinhá-la para vê qual será o resultado final. Enquanto isso, o trabalho continua!!! Pretendo fazer um doutorado em alguma área que me permita analisar a imagem da África construída no Brasil. Pretendo continuar pesquisando jornais, pois a mídia impressa, de maneira geral, tem uma importância ímpar no que se difunde sobre a África no Brasil. Imagine só, quem vai me convencer de que um jornal como a Folha de São Paulo que, segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ), é o maior em circulação do país, não exerce influência na construção da imagem da África no Brasil? Esse é o jornal mais complexo, por formar a opinião daqueles que monopolizam os recursos do país. A Folha não é jornal “povão”. São as pessoas as quais a Folha forma opinião (a elite) que se apresentam contra as mudanças, por exemplo, do sistema de cotas. Por isso pretendo dar continuidade a esses estudos, - uma vez que – acho estratégico entender como agem as elites do nosso país. Nos editoriais e notícias da pesquisa, parte considerável



das referências feitas ao continente, na Folha é sob a interpretação afropessimista e usando termos como: selvageria, tribo, carnificina, guerra civil, genocídio, dentre tantos outros. Encontrei um editorial da Folha dos anos 30 que exigia a expulsão dos negros da cidade de volta para a roça. Em outro editorial dos anos 90, a Folha condenou o líder negro Nelson Mandela, na ocasião de uma visita ao pais, por declarar que o Brasil era uma democracia a ser seguida e na opinião dos editores da Folha, Mandela jamais poderia ter falado de democracia racial, já que esse comandava um país como a África do Sul. Essa alternância do posicionamento político dos editores da Folha sobre a África que me interessa, seja na Folha, ou na mídia impressa como um todo.



Bikodisse: Você foi estudante de dois projetos da Biko: DHAR e Pré – Vestibular. Conte-nos um pouco sobre essas duas experiências.


Cheguei a Biko em 2000. No momento em que fui aprovado as coisas começaram a se encaixar. Tinha tido alguns problemas no período anterior, então, naquele momento a Steve Biko, meio que estava sendo uma forma de recomeço. Sobre a questão da conscientização racial, a Biko não tinha sido, naquele momento, o lugar do meu primeiro contato com a questão racial, até porque, em casa, já acompanhava de forma desinteressada a experiência militante de minha irmã mais velha (Márcia Paim). Meu pai, Sr Venâncio, tinha um bar em cima da minha casa, vendia mocotó, sarapatel, arraia, etc. Muitos integrantes do Movimento Negro, vários dos quais, só posteriormente vim compreender a importância que possuíam na organização do próprio movimento, frequentavam lá. Acompanhava toda movimentação do sobe e desce de reuniões, até porque, muitas vezes eu que abria o portão, pois até que o restante do pessoal chegasse, minha irmã se arrumasse coisa e tal, abria o portão para que os que chegavam aguardassem no bar. Muitas reuniões do movimento (de confraternização, inclusive) tiveram lugar no mocotó de Sr. Venâncio. Talvez muitos militantes antigos não se lembrem disso, pois, o tempo é o juiz mais implacável para a memória humana, porém, fui reconhecido por outros mais próximos com quem tenho contato até hoje e acompanharam meu crescimento. É desse período, acho, os primeiros contatos com a questão racial. Nessa época também, é importante lembrar, acompanhava isso só de longe, não estava sabendo do que se passava, via as reuniões e tal, mas completamente voando, “uma merda n’água”, para o lado que o vento soprasse, eu ia! E na verdade estava indo! Nessa época tinha outra cabeça, outras coisas despertavam minha atenção, estava envolvido com outros pensamentos!


Se minha memória não falha, isso que acabei de narrar, acontecia entre o final da década de oitenta a início dos anos 90. Em 2000, depois de um processo atribulado por qual tinha passado, fiz minha inscrição no pré-vestibular da Biko, após muita insistência da irmã que mencionei. Naquele momento, procurava sentido para algumas coisas, por isso era questão de recomeço! As aulas de Cidadania e Consciência Negra (CCN) para mim foram muito importantes, pois precisava me agarrar a algo para reorientar minha vida. Foi aí que passei a compreender do que se tratava a questão racial. Foi aí que compreendi o sentido das reuniões que aconteciam no mocotó de Sr. Venâncio. Foi naquele momento que disse: isso sou eu! Desde então, não consegui mais me separar da história da África.


Bikodisse: As aulas de CCN contribuíram para a sua formação política e cidadã. De que forma?


Tinha uma ideia muito dispersa dessa coisa de ser negro, racismo, preconceito, história da África. Isso em minha cabeça era muito solto! Foi nas aulas de CCN na Biko – embora morasse com uma militante do Movimento Negro, minha irmã - que comecei a amarrar e fazer a relação entre todas essas ideias, logo, é impossível não reconhecer a contribuição que as aulas de CCN e a Steve Biko deram a formação política que possuo hoje.

Foi a partir daí que comecei a ter acesso às referências africanas e da diáspora, Malcolm-X, N’kruma, Garvey, Luther King, Steve Biko, Mandela, Ahmed Sekou Turê, Agostinho Neto e outros. Decidi que enquanto tivesse ar nos pulmões, conheceria o que fosse possível e o que estivesse ao meu alcance sobre a história da África. Foi nesse momento que a história da África passou a ser indissociável de mim. Fiz o pré-vestibular e no Final do ano 2000, fui aprovado no curso de história da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), onde iniciei no ano seguinte. Em 2003, retornei a Biko como professor do curso pré-vestibular intensivo, lecionando história do Brasil. Aqui, mais uma vez, a Biko teve um papel importante. Antes de 2003, nunca tinha tido nenhuma experiência de falar em público, tarefa comum para quem se dedica ao ensino da história. A minha primeira experiência (2002) foi para um grupo de alunos e ex-alunos da Steve Biko, o Grupo GERAR. Foi a primeira vez que falei em público. Nervosismo à flor da pele! O pessoal me deu o maior apoio! Aquele grupo foi minha primeira sala de aula! Talvez eles não tenham dimensão do quanto àquela experiência teve impacto na minha vida. Ali comecei a quebrar o tabu! Depois disso, tive uma professora (negra) na Universidade que lecionava as disciplinas história Medieval I e II. Lembro que fiz parte de uma equipe que tinha de apresentar um livro intitulado: O diabo no imaginário cristão. Este livro falava da personificação do diabo no ocidente.


Lembro que durante a avaliação da equipe, após a apresentação do trabalho, ela falou para uma sala de 60 pessoas aproximadamente, que o único componente da equipe que não tinha sido capaz de passar o conteúdo do livro tinha sido eu! Detalhe: o único negro da equipe era eu! Você tem idéia do impacto que isso causou em mim? Ouvir de uma professora negra - diga-se de passagem, uma das poucas na Universidade a ocupar a cadeira de história medieval - que você, o único negro da equipe, NÃO FOI CAPAZ de apresentar o conteúdo dado, ou seja, a elite foi melhor do que a escória! Aquilo mexeu comigo de um jeito, que no semestre seguinte, isto é, na disciplina de história Medieval II, apresentei outro trabalho em que a mesma professora retirou em público todas as palavras que tinha dito no semestre anterior em Medieval I. A raiva que tinha dela no momento da apresentação foi tão grande que esqueci da turma e só conseguia ouvir a voz dela dizendo: VOCÊ NÃO FOI CAPAZ! No final, apresentei o melhor trabalho e superei o público. A partir daí, nunca mais tive problemas em falar em público. Detalhe: depois a professora me chamou no canto e me disse o seguinte: Eu sempre soube que você podia dar mais. Ela me desarmou completamente! Eu estava chateado com ela, pois, quando se diz que uma pessoa não FOI CAPAZ, como ela havia dito, não causava espanto a minha atitude. Percebi depois, que ela procurou me atingir de uma forma que eu pudesse explorar o máximo do meu potencial! Sou muito grato à professora por ter me provocado daquele jeito. Talvez se isso não tivesse acontecido, hoje acho que ainda teria dificuldades de falar em público. O grupo de estudos na Biko e a experiência em sala na universidade me deram tranquilidade suficiente para que eu pudesse lecionar história do Brasil no curso intensivo pré-vestibular em 2003. Foi uma experiência impar, gratificante e inesquecível. Lembro também que na época do pré-vestibular nos Galés, o curso era em frente ao hospital do exército. Eram duas salas cedidas pela escola e de vez em quando o “pau quebrava” por que tinha que juntar as turmas que eram grandes e as salas pouco ventiladas. Então era o maior “furduncio”, mas no final, todos se ajeitavam e ninguém ficava sem aula. Foi um período muito bom, muitas das amizades que guardo até hoje foram feitas ali, ou a partir dali a exemplo de Rosana, Kênia, Michel e Alan Jones, Luiz Henrique Anderson (Dão), Andréia (Itinga), Indira, Marilene, Leonardo (Léo), Vânia (professora de dança), Israel Vibration, Kátia (katinha a organizadora do curso), e pessoas admiráveis. Às vezes penso que aquela foi uma das melhores turmas que a Biko teve, pois, discordava-se de tudo e ao mesmo tempo concordava-se com tudo. Não tenho notícias de nenhuma inimizade ou mágoa daquela turma. Por outro lado, tínhamos uma excelente equipe de professores. Todos foram muito atenciosos comigo, especialmente o professor Lourival, que inúmeras vezes ficou comigo tirando dúvidas até quase 23 horas quando o curso terminava entre 21:30 e 22:00 hrs. Foi a pessoa com quem aprendi orações subordinadas, assunto de português que tinha sido um dos mais difíceis para mim. Nunca tive oportunidade de agradecer a essas pessoas, e faço isso aqui nessas linhas, obrigado a todos!


Bikodisse: Quais os principais fatores que contribuíram na escolha pelo curso de historia?


Acho que no momento em que percebi a dimensão da herança histórica, cronológica e cultural da qual faço parte, decidi fazer história. Vi neste curso a possibilidade do autoconhecimento, pois, aprofundar os conhecimentos sobre a história da África, é perceber a si mesmo, como o produto contemporâneo de um processo histórico iniciado a sete milhões de anos, quando o continente africano passou a ser o cenário do aparecimento da nossa espécie. O impacto dessas descobertas, não dá pra ter dimensão, quando se trata de construção identitária. Tem uma frase de Malcolm-X que gosto muito, e que talvez expresse implicitamente a importância de ter escolhido o curso de história:


Novas pontes devem ser construídas, porque na mente da maioria do nosso povo, hoje a África é longe demais. Então o único modo de nós levarmos nessa direção, é construindo novas pontes. Nós precisamos entender a África e precisamos entender nosso povo aqui, para construir uma ponte, um contato, uma linha de comunicação entre os dois. E quando essas linhas forem estabelecidas, e nossos irmãos africanos puderem esticar as mãos e nos alcançar e quando nós pudermos alcançá-los, não haverá nada que esse homem de olho azul possa nos fazer, com sucesso, desse dia em diante.” Penso que a história tem um papel fundamental na construção das pontes que Malcolm-X se referia, pois, a história edifica consciências. Acho que esse foi outro motivo que me levou a escolher esse curso, descobrir a importância que a história exerce na construção da consciência dos indivíduos.



Bikodisse: Enfrentou alguma dificuldade para cursar historia na Universidade Católica?


A forma como coloca a pergunta deixa espaço aberto para pensar que haja algum tipo de facilidade para as populações de cor cursarem o ensino superior no Brasil, independente de ser a UCSAL, na Bahia, no Maranhão ou em qualquer outro lugar. Penso que as dificuldades tornam comum as experiências negras. É difícil – e com isso não quero dizer que nunca tenha existido – encontrar afrodescendentes que puderam ter acesso ao ensino superior sem ter encontrado qualquer tipo de dificuldade. Acho que alguns encontram mais, outros menos, porém todos têm suas dificuldades. Eu, particularmente, dei a sorte de ser contemplado – no último ano da vigência do programa de bolsas da Universidade o CREDUCSAL em 2001 – com uma bolsa do 85% do valor da mensalidade. Por outro lado, tenho consciência que outros não tiveram e não têm essa sorte. Além disso existiam outras dificuldades que se apresentavam para vários colegas meus e que pra mim eram mais suaves, eram as despesas do transporte, pois sempre morei perto da universidade. As xerox não devem ser esquecidas, concorda! Essas adversidades, quando tomadas em conjunto, tornam-se um sério obstáculo a permanência dos mesmos. A evasão desses estudantes é o problema que temos acompanhado ao longo dos anos! No que diz respeito ao fato de ter enfrentado dificuldades no curso, como colocou a frase de, Malcolm-X, ilustra de maneira contundente a nossa situação em relação a essa questão, logo: “(...). Parem de falar do Sul. A partir do Sul da fronteira canadense, vocês estão no sul”. Em outras palavras, e baseado na nossa realidade, seria uma forma de dizer: estamos todos no mesmo barco e enfrentamos as mesmas dificuldades. Portanto as dificuldades nos unem mais do que nos separam.


Bikodisse: Como foi pra você ministrar aulas de historia no curso Pré – Vestibular na Steve Biko?



Depois de ter quebrado o tabu de falar em público, foi muito interessante, uma experiência ímpar. Acho que essa coisa de mostrar as pessoas o papel que a história ocupa na formação política dos indivíduos é importantíssima. Com as aulas na Biko pude perceber isso de perto.



Bikodisse: Qual sua opinião sobre a Lei 10.639/03 e que tipo de avaliação pode fazer sobre sua implementação.


É preciso colocar alguns pontos nessa questão. Tem-se feito uma discussão muito distorcida sobre a implementação dos Estudos Africanos no Brasil. Ao contrário do que muitos pensam a lei 10.639/03, não torna os cursos de história da África inéditos.

Os cursos de História da África já existiam em algumas universidades do país desde os anos 70 do século passado. É preciso destacar que estes cursos surgem marginalizados devido ao seu campo representar o interesse de uma minoria de pesquisadores. Além disso, se considerarmos o contexto político racial do país nesse período, há de convir a impossibilidade da História da África ter visibilidade como estamos atualmente presenciando. A lei 10.639/03 insere um novo ânimo aos estudos africanos no Brasil, só que dessa vez, isso foi feito após a comunidade internacional reconhecer, na conferência de Durban, que a temática do racismo não poderia mais ser tratada como assunto transversal, e sim central. Nesse sentido a implementação da lei abriu uma porta que não pode mais ser fechada, pois a mentalidade das pessoas em relação a esse tema, embora seja bastante conservadora, não é a mesma dos anos 70. Será muito difícil daqui pra frente qualquer governo – municipal, estadual, federal – ser contemplado com uma plataforma em que a temática racial não esteja presente.

Esse é um dos aspectos positivos da lei. Por outro lado, o fato de nunca ter se dedicado ao continente africano nos currículos escolares gerou uma desinformação tão grande, agora, no momento de se estabelecer um ponto de partida não temos! Partiremos de onde, se nunca tivemos informações coerentes sobre a África no Brasil? Quais serão as referências que utilizaremos para as leituras, se nunca conhecemos os autores africanos? Esses são alguns dos pontos negativos da lei. Por outro lado temos de nos preocupar em saber que são os responsáveis por difundir e formar os conhecimentos da África no Brasil, isso é muito importante! Há muita confusão nesse sentido. Uma coisa é você discutir a história do negro no Brasil, outra, é discutir a história da África, embora ambas estejam interligadas. Tem muitas pessoas que se acham especialistas em história da África, por que falam da história do negro no Brasil e fazem referência as regiões na África de onde vieram os escravizados – Gana, Angola, Nigéria -, essas pessoas se consideram especialistas em África. Tive um colega que me deixou bestificado ao relatar sua participação em uma especialização em história da África. Segundo ele, no curso se ensinavam que Robert Mugabe (atual presidente de Zimbábue) era o presidente de Angola e que, nesse mesmo país, falava-se o francês, imagine! Esse é o perigo da existência de tantos “especialistas” em história da África. Falar das regiões de onde vieram os negros que formaram a mão de obra escrava é completamente diferente, por exemplo, de se verificar os impactos do califado de Sokoto nas relações sociais da Nigéria, percebe? Outro exemplo, averiguar o espaço ocupado pela seita murida durante a expansão francesa no Senegal. Tem outra questão, a história da África, termina ficando restrita à área das ciências humanas – história, antropologia, sociologia, etnologia. Não se fala da História da África nas áreas da genética, biologia molecular, antropobiologia, ou seja, na área das ciências biomédicas. Este campo de estudos é considerado o que é de mais desenvolvido em termos de metodologia de pesquisa. Explicando melhor, a história da África está no centro das pesquisas paleontológicas. A paleontologia, suplementada pela biologia molecular e antropobiologia, tem contribuído significativamente para organização cronológica e um melhor entendimento sobre a evolução humana no continente africano. Sabemos que a arqueologia que é a ciência que se preocupa em achar os fósseis hominídeos tem grandes dificuldades em achar esses fósseis, já que, não são todos os dias que os investigadores encontram restos da humanidade moderna. A partir da recuperação de fragmentos dotados de DNA, está sendo possível confrontar esses dados com datações aproximadas dos antigos fósseis encontrados e produzir um quadro evolutivo coerente. Imagine se fôssemos esperar a arqueologia revelar esses fósseis, quantos anos levariam para possuirmos uma noção do que foi a humanidade? Aqui entre a biologia molecular! Esta auxilia a partir dos indícios de DNA encontrados uma datação praticamente irrefutável. Por esse motivo a história da África tem de ser introduzida nos campos mais avançados. Para as gerações depois da minha, não os incentivo a fazer história, geografia, antropologia, etnologia, sociologia, pois, penso que já tem pessoas muito competentes nessas áreas. Devemos incentivá-los a fazer biologia molecular, antropobiologia, engenharia genética, nanotecnologia, ou seja, nos campos mais avançados da formação do conhecimento. Suponhamos que hoje, surja uma hipótese fundamentada na biologia molecular de que a Ásia foi o berço da humanidade e não a África. Quem seriam os pesquisadores afrodescendentes no campo de estudo das ciências biomédicas preparados para refutá-las? Acho a lei 10.639/03 positiva e produtiva, por abrir caminho para uma profunda mudança epistemológica dos estudos da África no Brasil.



Bikodisse: O estado do Rio de Janeiro pretende adotar reserva de vagas para negros em concursos públicos. Qual sua opinião sobre essa medida?

Se essa reserva for adotada, terá um impacto importantíssimo, pois, significará a extensão da política de cotas do âmbito da educação para o funcionalismo público. Nesse sentido, as cotas deixam de ser pontuais para ser uma política macro. Essas ações, se implementadas, seriam indícios fortíssimos do início de mudanças no campo das relações raciais brasileiras.



Bikodisse: Você pode deixar algumas dicas de livros, site e vídeos para as pessoas que querem iniciar um estudo sobre a “História da África”?

Acho que todos aqueles que desejam iniciar os estudos na história da África devem em primeiro lugar, conhecer os pensadores africanos e da diáspora. Quem foram essas pessoas, onde nasceram quais os seus escritos mais importantes, qual sua principal contribuição na luta contra o racismo. É importante, nesse sentido, destacar o principal obstáculo enfrentado pela população afrodescendente em Salvador para conhecer os referenciais da África e da diáspora, a língua! Parte do material que fornece um conhecimento coerente dessas pessoas, está ou em inglês ou francês. Esses idiomas quando considerados no conjunto de uma população em mais de 100 milhões de pessoas vivem na chamada “linha da pobreza”, torna-se um problema agravante. Nesse sentido, penso, que para conhecer essas referências as pessoas devem procurar um livro chamado almas da gente negra de Edward Du. Bois. Neste livro acompanharemos a percepção racial nos Estados Unidos daquele que foi um dos maiores pensadores do pan-africanismo no século XX. Outro livro que devemos ter em nossa cabeceira é a autobiografia de Malcom-X. Neste livro poderemos acompanhar, a parti da experiência do líder negro americano, o drama que atormenta milhares de famílias negras nas mais diversas partes do globo: a criminalidade. Negra Raízes de Alex Harley, não deve ficar de fora, pois, esse livro nos mostra a importância do conhecimento do passado da África para a formação da nossa identidade. Jacobinos negros de C.L.R.James é outro livro que, todos aqueles que enveredarem para os estudos da África e da diáspora devem conhecer. Este livro é o que há de mais fundamentado sobre a história da revolução de Haiti. Essa revolução todos devem conhecer. Amada e Jazz de Toni Morrison devem ser lidos como os clássicos que relatam o drama da escravidão nos Estados Unidos.

O longo caminho para Liberdade, a autobiografia de Nelson Mandela, é puro conhecimento sobre a história de Mandela, da África do Sul e do apartheid neste país. Quem ler não vai se arrepender! Tem um artigo do professor Carlos Moore em um livro intitulado: educação anti-racista: caminhos abertos pela lei federal 10.639/03 lançado pela secretária de educação continuada (SECAD). Pra aqueles que nunca viram a história da África o conteúdo deste artigo apresenta-se como manual indispensável. O site da casa das África é uma boa fonte de informação para os estudos africanos, ali encontrarão além de bons artigos, muitas referências clássicas. No que diz respeito a vídeos, achei interessante o filme que fala da contribuição negra na criação do Rock, Cadilac Record. Recomendo o Diário de uma louca, para quem gosta de chorar! O filme Sankofa, para quem puder assistir, deixa claro a importância do passado africano no nosso presente.