terça-feira, 14 de junho de 2011

Forró da Biko 2011



Forró da Biko 2011!

A festa Junina dos Bikud@s já está garantida, confira as informações sobre o evento e não deixe de participar.

Local: Sankofa African Bar
Endereço: Rua Frei Vicente, nº07. Pelourinho
Data: 18 de Junho - Sábado
Horário: das 18 às 22h
Valor do Ingresso: R$ 10,00

Lembrando que o número de ingressos está limitado à capacidade do local. Então corra e pegue logo o seu!


Forró da Biko, quem disse que dois Bikud@s não se beijam?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Bikodisse Entrevista: Pedro Santos



Bikodisse: O que você faz na Biko atualmente?

Pedro Santos: Atualmente exerço na Biko a função de coordenador pedagógico do pré-vestibular com muito prazer e dedicação, pois foi através desse espaço de ensino e aprendizagem, e com a colaboração de todo grupo que faz parte desse, que adquiri os conhecimentos básicos iniciais para me tornar o que sou hoje: Pedagogo.
A Biko começou a fazer parte da minha vida desde 2005 quando entrei para cursar o pré-vestibular. Em 2007 fui convidado pela diretoria pedagógica, para atuar como estagiário de coordenação no pré-vestibular, o que era para ser apenas um período de 10 meses, se prolongou por mais três períodos

Bikodisse: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória educacional antes do ingresso no pré-vestibular Steve Biko.

Pedro Santos:A história é longa... Sou natural da cidade de Coração de Maria, estudei lá até a 7ª série do primeiro grau e no ano de 1978 vim morar em Salvador. Nesse mesmo ano conclui o primeiro grau (hoje ensino fundamental), no Colégio Marquês de Maricá, no bairro do Pau Miúdo, no curso noturno. No ano de 1979 ingressei no segundo grau, o atual Nível Médio, dentro da modalidade dos cursos técnicos, fazendo Patologia Clínica no Colégio Estadual Duque de Caxias, concluindo-o no ano de 1981, mas ao terminar o curso não dei segmento a carreira técnica, enveredei para outros campos do mercado de trabalho. A partir desse momento dei outros rumos à minha vida não mais voltados para o mundo da educação.
Em 2003, 22 anos depois de ter deixado os estudos fui ser assistente de pesquisa de um professor da UFBA, foi um momento de muito movimento e de convivência com o meio acadêmico e no vai e vem da pesquisa havia sempre alguém me inquirindo sobre a minha formação, quando eu falava que tinha apenas o segundo grau as pessoas se diziam “abismadas” diante da minha capacidade argumentativa e crítica de tudo que era abordado, debatido ou conversado. Esses fatos começaram a me instigar bastante. Terminada a pesquisa aqui em Salvador, no meado do ano 2004, acompanhei o professor à cidade de São Paulo, onde permanecemos um período, pois ele fora fazer um trabalho na PUC/SP, mais uma vez a convivência com o meio acadêmico e as perguntas se repetindo, resolvi então voltar a estudar para ingressar na academia.
Em uma breve passagem por Salvador, antes da volta definitiva no inicio do ano de 2005, já convicto de que voltaria a estudar, procurei a Biko, fiz a minha inscrição e naquele momento fiquei sabendo que para ingressar no curso pré-vestibular, era necessário participar do curso de nivelamento, como tinha de voltar para São Paulo, assinei um documento de próprio punho me comprometendo a fazer a prova para seleção quando retornasse, mesmo sem participar do nivelamento. Grande surpresa quando voltei, se não me engano no inicio de março, pois já havia uma turma de nivelamento, entrei para o grupo, participei das aulas, fiz a prova e fui selecionado pra frequentar o pré-vestibular. Estava voltando ao mundo do conhecimento vinte e quatro anos depois de terminar o meu Segundo Grau no ano de 1981.

Bikodisse: Enfrentou alguma dificuldade para cursar as aulas do pré-vestibular? Qual (is) estratégias utilizou para superá-las?

Pedro Santos:Acho que minha história com a Biko começou exatamente quando eu trabalhava em um Shopping da cidade, e certa feita, três senhoras entraram pela entrada e saída de veículos, ou melhor, pela garagem que era o meu local de trabalho, isso em 1998/9, quando a sede da Biko ainda era nos Barris. Como era proibido o acesso de pedestres pela garagem e naquele momento chovia muito, fui falar com elas que não era permitido o acesso e elas disseram-me que eram professoras e que trabalhavam nesse local de nome ainda estranho para mim. Perguntaram se eu estava estudando e me convidaram para aparecer e conhecer o trabalho do Instituto, esse fato me chamara atenção, mas não fui conhecer porque nesse momento as minhas expectativas eram outras, porém as informações ficaram na lembrança e anos depois lá estava eu no lugar de nome estranho: Instituto Cultural e Beneficente Steve Biko.
Dificuldades...esse nome na minha carreira estudantil é superação. Enfrentei, sim, muitas para cursar as aulas do pré-vestibular, no momento a minha vida pessoal estava totalmente desestruturada, estava acontecendo a quebra de uma família que tinha dezoito anos e, além disso, eu estava desempregado, e o problema era sério porque além de pagar as mensalidades do curso, tinha ainda de pagar o transporte para a locomoção, as cópias de textos e outras coisas mais, tinha também o tempo que estava sem estudar e tive medo de não conseguir acompanhar ou relembrar os conteúdos. Inicialmente havia também a vergonha de estar ali junto a tantos jovens, o fator idade, era até chamado de vovô.
Estratégias...bem, na época em que estava casado tinha um fabrico de doces e salgados que era meio de sobrevivência da família, até que eu voltasse ao mercado de trabalho, algo que cada vez ficava mais distante, primeiro porque eu não gostaria de voltar para trabalhar em funções que havia desempenhado anteriormente, depois porque eu gostava do que estava fazendo, era rentável e tinha a pretensão de formalizar uma pequena empresa, o que chegou a acontecer não seguindo adiante por fatores outros. Essa foi a estratégia que utilizei para superar a falta de dinheiro para custear o curso, vender lanche no local das aulas. Lembro-me como era sacrificante, eu fazia o cursinho à noite, pela manhã tinha outros afazeres, precisava estudar para passar no vestibular e produzir os salgados e doces que levava para vender. O bom de tudo isso era que eu tinha freguesia garantida, fiz até desafetos porque nem sempre o que eu produzia e levava era suficiente para suprir a demanda e alguns queriam prioridade, mas tudo deu certo, pagava em dia as minhas mensalidades e tinha dinheiro para as outras coisas também.

Bikodisse: Qual importância das aulas e atividades da disciplina CCN na elevação de sua autoestima e formação política? Como foi ministrar aulas de CCN no pré-vestibular Steve Biko?


Pedro Santos:A importância das aulas de CCN para mim veio quando passei a conhecer a minha história de fato; veio quando eu passei a enxergar através das aulas expositivas coisas que passavam despercebidas no meu cotidiano; quando passei a me ver como cidadão de direitos e de deveres também; enxergar melhor a minha identidade negra; a convivência com tanta gente negra e as coisas boas que eram produzidas por todos.
Quanto a minha autoestima, o reforço foi bastante positivo, mas na verdade ela nunca fora baixa porque sempre acreditei no meu potencial enquanto pessoa e profissional.
Quanto a formação política, aí sim, foi de valor inestimável, visto que antes de tudo isso acontecer, era como se eu não soubesse nada de política no sentido cidadão, pois o CCN nos mostra a importância de fatos que precisam e merecem ser respeitados, como a questão da Cidadania, respeito as identidades, respeito a diversidade e a qualquer outro bem que faça parte da vida de todo ser humano.
Ministrar aulas de CCN no pré-vestibular foi para mim o ápice da minha vivência dentro do Instituto Steve Biko, pois tive a oportunidade de estar fazendo parte do que chamam “coração da Biko”, me senti lisonjeado, e levar para outros o conhecimento que obtive através do CCN, foi gratificante demais. As discussões calorosas, as polêmicas, os depoimentos, o querer mais por parte dos alunos é tudo que um professor precisa para se sentir realizado e este meu momento professor sem dúvida foi maravilhoso, e o melhor mesmo de tudo isso é você ouvir do aluno ou aluna, homens e mulheres feitos e feitas que as aulas que você ministrou mudaram as suas vidas, suas visões de mundo, o modo como pensavam.

Bikodisse: Quais os principais motivos para a escolha do seu curso de graduação?

Pedro Santos:Isso foi um trabalho de pesquisa minucioso até chegar a essa escolha. Um dia pensei em estudar comunicação, ser jornalista, com o passar do tempo pensei em ser psicólogo, pois tenho algo que atrai as pessoas para mim no sentido de buscarem palavras de conforto, de serem ouvidas por mim, não sei o porquê, mas acontece. Porém, a partir da convivência com o meio acadêmico, mencionada anteriormente, acabei sendo influenciado e deixando de lado a psicologia, que na verdade ainda me encanta, e parti em busca de algo dentro do meu perfil pessoal. Uma gama de pessoas conhecidas me disse que o meu perfil era de jornalista, crítico, polêmico, contestador, curioso... Mas as minhas pesquisas me mostraram que eu poderia estar no campo educacional, que também me seduz bastante. Optei então por Pedagogia pelos motivos mencionados, e também pelo fato de já estar entrando para academia aos quarenta e um anos de idade. Depois da graduação, onde uma pessoa com essa idade teria possibilidades reais de trabalho? O mundo da educação e as possibilidades que ele oferece foram decisivos no momento da escolha do curso.

Bikodisse: Quais as dificuldades que um estudante negro enfrenta para cursar Pedagogia na UFBA? Quais são suas estratégias para superar essas dificuldades?

Pedro Santos:O curso de Pedagogia, não só na UFBA, é um curso hegemonicamente feminino e eu não tinha essa informação. Entrar pra esse mundo feminino foi inicialmente um choque. Imaginem que em 2006, quando entrei para a UFBA, em duas turmas do curso iniciaram no primeiro semestre com 80 estudantes, havia apenas sete homens e destes sete apenas três permaneceram.
O fato de ser negro dá até certo conforto, porque o curso de pedagogia não goza de grandes privilégios, não está entre os cursos de ponta e a maioria dos que ingressam nele são negros e negras que ainda veem na educação a possibilidade de melhorar a sua vida. Outro detalhe é a baixa concorrência por vagas, talvez muitos vejam isso como uma possibilidade de ingressar na academia, o que não foi a minha história.
Todavia, enfrentamos com isso a falta de apoio pela permanência num curso que não goza de determinados prestígios, frequentado por negros e negras e que não tem por parte da Instituição (UFBA), mecanismos que apoiem a permanência de seus ingressantes. O número de bolsas é bastante insignificante em quantidade e valores, não existe apoio estratégico de empresas particulares, dentre outros.

Bikodisse: Seu Trabalho de Conclusão de Curso na UFBA foi sobre a Biko e seus alunos. Fale sobre sua pesquisa e quais foram os resultados obtidos nela?

Pedro Santos:Fazer o meu TCC sobre a Biko foi na verdade uma surpresa até para mim mesmo, pois a minha convivência fez com que eu não enxergasse no universo Bikudo as possibilidades inúmeras que o Instituto oferece como pesquisa. Na verdade esse não era o meu objeto de pesquisa inicial, porém estava descontente com a minha escolha anterior, que por sinal era também muito interessante, mas não encontrei espaço para desenvolver o trabalho como eu gostaria, as modificações e a falta de orientadores para o tema, como também material didático que falasse sobre o assunto, me lavaram a desistir definitivamente. Então após uma inserção rápida em uma reunião de diretoria na Biko, Sílvio Humberto perguntou a respeito do meu tema de monografia e indiretamente me fez mudar de opinião.
O que eu apresento no trabalho intitulado: PENSAMENTO NEGRO E EDUCAÇÃO: O INSTITUTO STEVE BIKO. Primeiramente é o próprio Instituto e os projetos desenvolvidos por ele como mecanismos de ações afirmativas, ante o projeto do Governo e a importância destes para a comunidade negra estudantil, da cidade de Salvador. Para isso pesquisei outros trabalhos já feitos em relação ao Instituto, como também trabalhos apresentados fora do nosso estado que tiveram como referência a Biko. A conclusão é que o Instituto Steve Biko é sem dúvida alguma, uma instituição que se preocupa e luta para a inserção da comunidade negra estudantil nos espaços de Ensino Superior Público, por considerar estes de conhecimento e de poder que por muito tempo teve a classe negra estudantil fora dele, e mesmo com as mudanças que aconteceram nos últimos cinco anos, ainda é bastante reduzida a nossa presença, principalmente nos cursos da área das ciências exatas, saúde e até algumas de humanas, a exemplo o curso de direito.Como é apenas uma monografia, sabemos que o campo exploratório acaba sendo reduzido, mas em posterior momento talvez esse trabalho possa vir a ser uma pesquisa de um futuro mestrado.

Bikodisse: Qual sua opinião sobre o programa de ações afirmativas na UFBA?


Pedro Santos:Quanto às questões do Sistema de Cotas adotado pela UFBA, em que a Biko configurou como uma das peças principais para essa engrenagem, foi e ainda é sem dúvida, uma das melhores coisas que aconteceu nos últimos tempos enquanto ações de reparação para o estudante afrodescendente. Hoje temos um número expressivo de estudantes negros e negras nas universidades, graças a esses mecanismos. Outra coisa é a isenção que é concedida á estudantes egressos do ensino público, é importantíssima essa ação da universidade, pois sabemos que nem todos alunos que farão os vestibulares têm condição financeira para arcar com as inscrições dos exames. Para o educando já em ação temos o Projeto Permanecer que oferece bolsas para alunos cotistas, porém o número de bolsas oferecido é ainda insuficiente para a demanda de alunos cotista na universidade, contudo, todas essas ações são ferramentas de importância fundamental para o ingresso e permanência de negros e negras das classes populares, e oriundos do sistema público de ensino nas universidades públicas.

Bikodisse: Qual sua avaliação sobre a implementação da lei 10.639/2003?


Pedro Santos:A implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/06 no momento é sem dúvida um avanço importante para a comunidade negra brasileira, trazer para o conhecimento geral, fatos negados e desconhecidos da grande população estudantil, significa uma nova construção ou re-construção da nossa história. É lamentável que mesmo depois de sete anos, ainda ande “capengando” a prática em si, tanto no ensino quanto na formação de novos profissionais pelas instituições de ensino superior. A resistência do sistema em colocar em prática a lei é que deve nos preocupar, é um sinal que a sociedade educacional ainda persiste em ser tradicionalista, e avessa aos avanços educacionais, permanecendo na perpetuação da mentira e da hipocrisia e alheia aos interesses da população, trabalhando para que as classes privilegiadas permaneçam no seu patamar, oprimindo, mentindo e negando o que está em evidência, o novo momento histórico que está acontecendo no Brasil.

Bikodisse: De que forma você contribui para a IES Steve Biko e como se vê nesse processo?

Pedro Santos:Ter aceito o convite e voltado ao Instituto como estagiário para mim já é uma grande contribuição, pois essa é a intenção política do ICSB, formar pessoas e estas retornarem depois para dar a sua contribuição, como voluntário, estagiário, colaborador, e estar fazendo parte desse processo é um aprendizado constate para mim como pessoa, sujeito político e como profissional de educação, pois a Biko é antes de tudo uma “escola de vida”.
Aproveito esse espaço concedido para agradecer publicamente ao ICSB, as pessoas que o compõe pelo crescimento que obtive aqui.