sábado, 1 de maio de 2010

Steve Biko ( Última parte)


Um pouco de história

A colonização da África do Sul começou na cidade do Cabo, extremo sul do pais .Em 1652, a Companhia das índias Orientais , empresa de exploração colonial pertencente ao governo holandês, estabeleceu no local de onde hoje é a cidade uma base portuária para reabastecimento dos seus navios . Depois, essa ocupação foi reforçada com a vinda de colonos alemães e franceses, muitos deles fugindo de perseguições religiosas na Europa. Da fusão desses grupos, foi surgindo aos poucos um novo grupo cultural branco , o africâner, uma mistura holandês com alemão.

A convivência entre os colonizadores e os povos que habitavam a região foi pacifica inicialmente, mais isso durou pouco. A penetração colonial provocou inevitáveis confrontos, inicialmente com os hotentotes e os bosquímanos, que acabaram fugindo ou reduzidos a condição de escravos. O principal problema era que os colonos e a Companhia das Índias , necessitados de mão de obra, queriam obrigar essas tribos a abandonar seus hábitos seculares de caça e pastoreios para se tornarem sedentárias. Mas a expansão da colonização holandesa na região iria continuar, encontrando mais ao norte de Xhosas um povo de tradição guerreira que conhecia e praticava a pecuária e cuja terras, de boa qualidade, eram muito cobiçadas. Os Xhosas resistiram heroicamente, primeiro aos boers (como se denominava os colonos de origem holandesa) e depois aos ingleses. Mas foram derrotados.

A ocupação inglesa da África do Sul iria começar por volta de 1795 quando os holandeses, com medo de ver eu comercio marítimo prejudicado pela expansão napoleônica, pedem a proteção da Inglaterra. Imediatamente, os ingleses, que tinham mais dinheiro, mais força militar e técnicas avançadas, desembarcaram no Cabo e começaram a impor o seu projeto de colonização. Em 1815, toda a colonização passou ao domino britânico, com o inglês se tornando a língua oficial da África do Sul. Os ingleses também aboliram a escravidão e implementaram uma relativa liberdade de imprensa.

A convivência entre boers e ingleses era difícil. Tão difícil que em 1836 10 mil colonos boers iniciaram uma retirada da Colônia do Cabo em direção ao norte, ao interior do pais, que ficou conhecida como "a grande viagem" (Grand Trek). Nesse êxodo, os boers vão encontrando resistência dos povos locais, como os ntabeles e depois os zulus. Em dezembro de 1838, depois de uma resistência heróica que causou a morte do líder boers Pieter Retief , os zulu foram derrotados e um novo líder boers, Andries funda em 1839 a Republica Independente do Natal. Mas a Inglaterra, alegando que os boers eram súditos de seu império, iria ocupar e anexar a região. A grande maioria dos boers recusou essa situação e mais uma vez imigrou, fundando outras três republicas ao norte do rio Vaal, afluente do Ornge .Em 1852, a Inglaterra reconhece a Independência do Transvaal e em 1854 do Estado Livre de Orange.

A Colônia do cabo, dotada a partir de 1853 de um regime representativo, concede os negros direitos iguais aos dos brancos, embora ainda limitados pela existência do voto censitário (só tinha direito a voto a quem estivesse acima de determinada posição econômica). A mesma coisa aconteceu em Natal,embora com maiores restrições. Mais nos estados criados pelos boers já começam a aparecer daquilo que viria a se tornar o apartheid. Mas a descoberta de ricas jazidas de ouro e diamantes na segunda metade da década de 1860 ao norte da África do Sul iria despertar o interesse da Inglaterra, e iniciaria um processo que levaria as chamadas guerras boers, que duraram ate 1902, quando um tratado deixou as terras com os boers e as minas com os ingleses.

Apesar de hegemonia política inglesa, a população bôer era maior. Por isso, ela consegue exercer uma pressão que leva, em 1910, a formação da União Sul Africana, com um governo autônomo como o Canadá e a Austrália. Esse gradativo estabelecimento de uma hegemonia dos boers foi acompanhado da redução dos direitos dos negros. Já em 1913 o direito de propriedade da terra pelos negros foi limitados a áreas especificas, que correspondia a poço mais de 10 por cento de território do pais. Em 1914, uma corrente mais radical dos boers iria lançar o Partido Nacional Africâder,que usando uma formula que combinava nacionalismo africâner,com fanatismo anti-negro, chegaria ao poder em 1948, iniciando a implantação da política do apartheid. Klass de Jorge, no livro "África do Sul - Apartheid e Resistência" , diz que no período transcorrido entre 1948 e 1961 o estado sul-africano fez de tudo para estimular o desenvolvimento da indústria e do comércio africâner e deu inicio a uma ofensiva contra o nível de vida dos negros que deveria durar mais de quatro décadas. Logo nos primeiros anos do governo nacionalista, contra De Jonge, o declínio dos salários reais dos negros acompanhou o crescimento rápido do lucro da empresas.

Novos mecanismos de subordinação da força de trabalho negra aumentaram o contingente de Mão-de-obra à disposição dos fazendeiros,enquanto o aparelho burocrático era inflado para fornecer emprego aos trabalhadores africaners. Essa hegemonia branca seria garantida por meio da institucionalização da segregação , baseada numa legislação discriminatória.

Obras consultadas - “Apartheid – O Horror Branco na África do Sul”, de Francisco Jose Pereira. Coleção Tudo é Historia. Editora Brasiliense ,1985.- “ O Apartheid”, de Marta Maria Lopes. Atual Editora, 1990- “África do Sul, Apartheid e Resistência” , de Klaas Jorge. Cortez Editora e Eboh Livraria e Editora, 1990-“África do Sul – Historia de uma crise” de René Lefort. Editora Antidoto, Portugal, 1970. ”Escrevo o que Eu Quero”. Seleção dos principais textos de Steve Biko. Editora Ática, 1990.-“Biko – A Historia do líder Negro Sul - africano Steve Biko “, de Donald Woods. Editora Best Seller, 1987.- “O Mundo Hoje/93”. Anuário Econômico e Geopolítico Mundial. Editora Ensaio .

Fonte: Revista Pode Crê, Ano I- Ago/Set - 1993, nº 2

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