Biko Disse: "A libertação tem importância básica no conceito de Consciência Negra, pois não podemos ter consciência do que somos e ao mesmo tempo permanecermos em cativeiro"
Bikodisse: Você ingressou na Biko através do Projeto Oguntec, aos 14 anos de idade. Como se deu esse processo? O que motivou seu interesse em participar deste projeto?
Bruno Cupertino: Tudo começou quando ainda estava no colégio e os diretores informaram aos alunos do 1º ano que estavam abertas as inscrições numa instituição, mas não nos disseram de que instituição falavam, no entanto ressaltaram a importância de participarmos, pois a seleção englobava alunos que gostassem de matemática e áreas afins. A maioria dos meus colegas desistiu, eu, no entanto, mostrei-me interessado em participar do projeto, já que sempre gostei de matérias da área de exatas como; matemática, física e química, então conversei com minha mãe que sempre me apoiou em todas decisões tomadas por mim, e resolvi participar desse projeto.
Bikodisse: Enfrentou alguma(s) dificuldade (s) para cursar as aulas do projeto Oguntec? Quais e o que fez para superá-las?
Bruno Cupertino: As dificuldades existem, mas ela só passam a ser problemas quando nos propomos a fazer algo e não damos prioridade. Por isso me dediquei ao oguntec. Ao ser questionado sobre como iria conciliar as aulas do projeto com as do colégio, a resposta foi imediata; se me dedicasse a biko, teria mais facilidade com as disciplinas do colégio, e foi o que aconteceu. Na vida, utilizo estratégias para tudo, ás vezes as estratégias não funcionam, mas é um método que utilizo até hoje e não me arrependo.
Bikodisse: Sua concepção sobre Ciência e Tecnologia (C& T) mudou após o Projeto Oguntec? De que forma? Qual importância da C&T para o desenvolvimento do Brasil ?
Bruno Cupertino: Na verdade o meu conhecimento em C&T iniciou-se no Oguntec. Antes do projeto eu não tinha uma idéia formada e noção exata do que era ciência e tecnologia. Acredito que a população mais desfavorecida estaria num patamar diferenciado do atual se soubessem como se desenvolve a tecnologia e o por quê de seu desenvolvimento. A informação é a chave essencial da nossa sociedade, por isso restringi-las, é uma forma de opressão indireta que tem efeitos piores do que as formas de opressão direta. Com isso, a maioria da população demonstra um sentimento de desinteresse na obtenção do conhecimento, uma vez que o mesmo só pode ser obtido através da informação.
Bikodisse: Você percebeu alguma diferença entre o ensino da C&T no Oguntec e na Escola Pública? Quais? Considera importante replicar essa experiência nas Escolas Públicas? Por quê?
Bruno Cupertino: Infelizmente o governo não preza a educação dos jovens em escolas públicas, sendo assim, C&T não faz parte dos currículos escolares. Essa disciplina foi inovadora na minha vida, fiquei surpreso e gostei muito das aulas, essa matéria deveria ser incluída na grade colegial, muitos pensam que discutir C&T é somente ver o novo Iphone que saiu no mercado, mas não é só isso, discutimos também os efeitos da tecnologia na sociedade, estudamos atualidades, a influência da tecnologia na velocidade de comunicação, dentre outras coisas. C&T é uma matéria fundamental e inovadora que permite aos jovens perceber quão grande é a velocidade que a tecnologia se desenvolve. Procurando saber como elas se desenvolvem, os jovens se capacitariam e estariam habilitados para discutir ou atuar em áreas afins.
Bikodisse: Em outras edições da Bikodisse, @s entrevistad@s relataram a importância da disciplina CCN (Cidadania e Consciência Negra) em suas vidas. Com eram as aulas de CCN no Oguntec? Que importância tiveram na elevação de sua autoestima e formação política?
Bruno Cupertino: Minhas aulas de CCN eram demais, contava os dias para ter a próxima, pois em tudo que era relatado pela professora Vânia, ou em palestras, eu me enxergava. Me via nos depoimentos, e o que era passado fazia minha autoestima se elevar muito, a ponto de me assumir como negro, com um pensamento diferenciado sobre algumas coisas que eu considerava comuns e da importância de você estar informado, para termos embasamento nas coisas que falamos, ou que defendemos. Isso fez com que eu mudasse as minhas atitudes e as minhas filosofias de pensamento, digo que depois das aulas de CCN, me senti mais liberto e seguro para dizer as coisas que penso e gosto. Tanto na minha filosofia de vida, quanto em minhas escolhas políticas. Antes, a minha escolha por determinado candidato político era feita sem critérios, às vezes escolhia o que estava ganhando nas pesquisas. Hoje pesquiso a vida deles e procuro saber se o partido o qual eles pertencem, defende o que é bom para mim e para a minha comunidade.
Bikodisse: Em que momento e por que você resolveu prestar vestibular para Engenharia Elétrica? Como foi o desempenho nessas provas?
Bruno Cupertino: O Oguntec promovia palestras com ex-alunos que estavam em universidades ou que já haviam se formado. Depois de uma dessas palestras, justamente falando do curso de engenharia elétrica, decidi por este curso, foi a minha primeira opção em todos os vestibulares que prestei. Meu desempenho foi relativamente bom, dos nove vestibulares que fiz, fui aprovado em sete, sendo três da área 1, dois da FTC, a UFBA e o ENEM, onde tive um bom percentual e fui convocado pelo prouni a cursar engenharia elétrica na FIB com bolsa integral. Resultados como esse me fazem ver que valeu a pena ter passado alguns finais de semana estudando na biko, e os feriados com aula.
Bikodisse: Quais as dificuldades que um jovem negro enfrenta para cursar Engenharia Elétrica na UFBA? Quais são suas estratégias para superar essas dificuldades?
Bruno Cupertino: Acho que a dificuldade de cursar engenharia elétrica na UFBA, não se restringe somente a você ser negro, mas também a você ter dificuldades financeiras, eu desde que entrei na UFBA, procurei saber o que fazer para poder ter alguma renda na própria Instituição, desde então estou inscrito na Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e sempre que tem bolsas remuneradas ou seleção. Lá sou informado e basta que eu me inscreva para concorrer. São táticas que assumi para não ter que ir trabalhar fora, e eu sei que com o tempo não iria terminar o curso, na maioria dos casos que presenciei situações parecidas foi isso o que aconteceu.
Bikodisse: Você participa ou já participou de algum grupo da UFBA (D.A,, DCE, Grupos de pesquisa, etc...) ? Conte-nos um pouco.
Bruno Cupertino: Sim, participo do CAEEL que é o Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica onde ocupo o cargo de Coordenador de Atividades, fiz parte de uma chapa na eleição do DCE, só que não ganhamos e fiz uma iniciação científica no grupo INDIGENTE, que é um grupo que desenvolve jogos no curso de ciência da computação, essa última foi uma bolsa cedida pela universidade.
Bikodisse: A WorldFound, instituição que contribui com recursos financeiros para o projeto Oguntec, promoveu um evento nos EUA e convidou três representantes da Biko. Como foi a sua participação neste evento? Qual a importância dessa experiência?
Bruno Cupertino: Minha participação no evento promovido pela worldfund nos EUA foi apresentar a todos que lá estavam, um pouco da minha trajetória antes e depois que passei na instituição Biko, falar um pouco de como foi fazer o projeto Oguntec, e da minha aprovação no ENEM, processo seletivo que me levou a cursar Engenharia Elétrica na FIB. Mal sabia que quase dois meses depois, passaria na UFBA em Engenharia Elétrica. Foi uma experiência única, não é todo o dia que você viaja para os EUA, ainda mais em Nova Iorque. Fiquei vislumbrado com a cidade e muito feliz com a oportunidade que me foi dada.
Bikodisse: O que você faz na Biko atualmente e como se vê na IES Steve Biko?
Bruno Cupertino: Atualmente, desenvolvo na Biko um projeto em conjunto com Lázaro, que começará no próxima turma do Oguntec. Estou ansioso para pôr em prática algumas coisas que decidimos em reuniões que fizemos. Na IES Steve Biko, prentendo inicialmente participar como estagiário ou monitor, não sei ainda se quando essa IES se firmar já estarei habilitado a ser professor do Curso de Elétrica e num futuro não muito distante, chefe do departamento do curso de Elétrica da Universidade Steve Biko.
Bikodisse: No final deste ano, mais uma turma do projeto Oguntec prestará vestibular. Que mensagem deixa para esses/essas jovens negr@s que, assim como você, sonham ingressar numa universidade pública.
Bruno Cupertino: Vou fazer uma coisa melhor, minha mensagem será pros jovens da turma atual do oguntec e para os leitores que têm a mesma vontade de entrar numa universidade pública. A vitória só vem com dedicação, não é somente dizer “eu quero”, mas se fazer merecedor daquilo. No momento que você, jovem, decidir estudar pra entrar numa universidade, você tem que fazer alguns sacrifícios que posteriormente verá não como sacrifício e sim como escolhas feitas para obter bons resultados. Nem sempre espere por conquistas imediatas, alguns resultados virão quando você menos esperar, é preciso ser persistente e insistente, vença pelo cansaço se for preciso, e se quer realmente entrar numa universidade, se é isso que você deseja, elimine a palavra DESISTIR do seu dicionário, ela não merece ser consultada enquanto você luta para chegar ao seu objetivo.
Bruno Cupertino: Tudo começou quando ainda estava no colégio e os diretores informaram aos alunos do 1º ano que estavam abertas as inscrições numa instituição, mas não nos disseram de que instituição falavam, no entanto ressaltaram a importância de participarmos, pois a seleção englobava alunos que gostassem de matemática e áreas afins. A maioria dos meus colegas desistiu, eu, no entanto, mostrei-me interessado em participar do projeto, já que sempre gostei de matérias da área de exatas como; matemática, física e química, então conversei com minha mãe que sempre me apoiou em todas decisões tomadas por mim, e resolvi participar desse projeto.
Bikodisse: Enfrentou alguma(s) dificuldade (s) para cursar as aulas do projeto Oguntec? Quais e o que fez para superá-las?
Bruno Cupertino: As dificuldades existem, mas ela só passam a ser problemas quando nos propomos a fazer algo e não damos prioridade. Por isso me dediquei ao oguntec. Ao ser questionado sobre como iria conciliar as aulas do projeto com as do colégio, a resposta foi imediata; se me dedicasse a biko, teria mais facilidade com as disciplinas do colégio, e foi o que aconteceu. Na vida, utilizo estratégias para tudo, ás vezes as estratégias não funcionam, mas é um método que utilizo até hoje e não me arrependo.
Bikodisse: Sua concepção sobre Ciência e Tecnologia (C& T) mudou após o Projeto Oguntec? De que forma? Qual importância da C&T para o desenvolvimento do Brasil ?
Bruno Cupertino: Na verdade o meu conhecimento em C&T iniciou-se no Oguntec. Antes do projeto eu não tinha uma idéia formada e noção exata do que era ciência e tecnologia. Acredito que a população mais desfavorecida estaria num patamar diferenciado do atual se soubessem como se desenvolve a tecnologia e o por quê de seu desenvolvimento. A informação é a chave essencial da nossa sociedade, por isso restringi-las, é uma forma de opressão indireta que tem efeitos piores do que as formas de opressão direta. Com isso, a maioria da população demonstra um sentimento de desinteresse na obtenção do conhecimento, uma vez que o mesmo só pode ser obtido através da informação.
Bikodisse: Você percebeu alguma diferença entre o ensino da C&T no Oguntec e na Escola Pública? Quais? Considera importante replicar essa experiência nas Escolas Públicas? Por quê?
Bruno Cupertino: Infelizmente o governo não preza a educação dos jovens em escolas públicas, sendo assim, C&T não faz parte dos currículos escolares. Essa disciplina foi inovadora na minha vida, fiquei surpreso e gostei muito das aulas, essa matéria deveria ser incluída na grade colegial, muitos pensam que discutir C&T é somente ver o novo Iphone que saiu no mercado, mas não é só isso, discutimos também os efeitos da tecnologia na sociedade, estudamos atualidades, a influência da tecnologia na velocidade de comunicação, dentre outras coisas. C&T é uma matéria fundamental e inovadora que permite aos jovens perceber quão grande é a velocidade que a tecnologia se desenvolve. Procurando saber como elas se desenvolvem, os jovens se capacitariam e estariam habilitados para discutir ou atuar em áreas afins.
Bikodisse: Em outras edições da Bikodisse, @s entrevistad@s relataram a importância da disciplina CCN (Cidadania e Consciência Negra) em suas vidas. Com eram as aulas de CCN no Oguntec? Que importância tiveram na elevação de sua autoestima e formação política?
Bruno Cupertino: Minhas aulas de CCN eram demais, contava os dias para ter a próxima, pois em tudo que era relatado pela professora Vânia, ou em palestras, eu me enxergava. Me via nos depoimentos, e o que era passado fazia minha autoestima se elevar muito, a ponto de me assumir como negro, com um pensamento diferenciado sobre algumas coisas que eu considerava comuns e da importância de você estar informado, para termos embasamento nas coisas que falamos, ou que defendemos. Isso fez com que eu mudasse as minhas atitudes e as minhas filosofias de pensamento, digo que depois das aulas de CCN, me senti mais liberto e seguro para dizer as coisas que penso e gosto. Tanto na minha filosofia de vida, quanto em minhas escolhas políticas. Antes, a minha escolha por determinado candidato político era feita sem critérios, às vezes escolhia o que estava ganhando nas pesquisas. Hoje pesquiso a vida deles e procuro saber se o partido o qual eles pertencem, defende o que é bom para mim e para a minha comunidade.
Bikodisse: Em que momento e por que você resolveu prestar vestibular para Engenharia Elétrica? Como foi o desempenho nessas provas?
Bruno Cupertino: O Oguntec promovia palestras com ex-alunos que estavam em universidades ou que já haviam se formado. Depois de uma dessas palestras, justamente falando do curso de engenharia elétrica, decidi por este curso, foi a minha primeira opção em todos os vestibulares que prestei. Meu desempenho foi relativamente bom, dos nove vestibulares que fiz, fui aprovado em sete, sendo três da área 1, dois da FTC, a UFBA e o ENEM, onde tive um bom percentual e fui convocado pelo prouni a cursar engenharia elétrica na FIB com bolsa integral. Resultados como esse me fazem ver que valeu a pena ter passado alguns finais de semana estudando na biko, e os feriados com aula.
Bikodisse: Quais as dificuldades que um jovem negro enfrenta para cursar Engenharia Elétrica na UFBA? Quais são suas estratégias para superar essas dificuldades?
Bruno Cupertino: Acho que a dificuldade de cursar engenharia elétrica na UFBA, não se restringe somente a você ser negro, mas também a você ter dificuldades financeiras, eu desde que entrei na UFBA, procurei saber o que fazer para poder ter alguma renda na própria Instituição, desde então estou inscrito na Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e sempre que tem bolsas remuneradas ou seleção. Lá sou informado e basta que eu me inscreva para concorrer. São táticas que assumi para não ter que ir trabalhar fora, e eu sei que com o tempo não iria terminar o curso, na maioria dos casos que presenciei situações parecidas foi isso o que aconteceu.
Bikodisse: Você participa ou já participou de algum grupo da UFBA (D.A,, DCE, Grupos de pesquisa, etc...) ? Conte-nos um pouco.
Bruno Cupertino: Sim, participo do CAEEL que é o Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica onde ocupo o cargo de Coordenador de Atividades, fiz parte de uma chapa na eleição do DCE, só que não ganhamos e fiz uma iniciação científica no grupo INDIGENTE, que é um grupo que desenvolve jogos no curso de ciência da computação, essa última foi uma bolsa cedida pela universidade.
Bikodisse: A WorldFound, instituição que contribui com recursos financeiros para o projeto Oguntec, promoveu um evento nos EUA e convidou três representantes da Biko. Como foi a sua participação neste evento? Qual a importância dessa experiência?
Bruno Cupertino: Minha participação no evento promovido pela worldfund nos EUA foi apresentar a todos que lá estavam, um pouco da minha trajetória antes e depois que passei na instituição Biko, falar um pouco de como foi fazer o projeto Oguntec, e da minha aprovação no ENEM, processo seletivo que me levou a cursar Engenharia Elétrica na FIB. Mal sabia que quase dois meses depois, passaria na UFBA em Engenharia Elétrica. Foi uma experiência única, não é todo o dia que você viaja para os EUA, ainda mais em Nova Iorque. Fiquei vislumbrado com a cidade e muito feliz com a oportunidade que me foi dada.
Bikodisse: O que você faz na Biko atualmente e como se vê na IES Steve Biko?
Bruno Cupertino: Atualmente, desenvolvo na Biko um projeto em conjunto com Lázaro, que começará no próxima turma do Oguntec. Estou ansioso para pôr em prática algumas coisas que decidimos em reuniões que fizemos. Na IES Steve Biko, prentendo inicialmente participar como estagiário ou monitor, não sei ainda se quando essa IES se firmar já estarei habilitado a ser professor do Curso de Elétrica e num futuro não muito distante, chefe do departamento do curso de Elétrica da Universidade Steve Biko.
Bikodisse: No final deste ano, mais uma turma do projeto Oguntec prestará vestibular. Que mensagem deixa para esses/essas jovens negr@s que, assim como você, sonham ingressar numa universidade pública.
Bruno Cupertino: Vou fazer uma coisa melhor, minha mensagem será pros jovens da turma atual do oguntec e para os leitores que têm a mesma vontade de entrar numa universidade pública. A vitória só vem com dedicação, não é somente dizer “eu quero”, mas se fazer merecedor daquilo. No momento que você, jovem, decidir estudar pra entrar numa universidade, você tem que fazer alguns sacrifícios que posteriormente verá não como sacrifício e sim como escolhas feitas para obter bons resultados. Nem sempre espere por conquistas imediatas, alguns resultados virão quando você menos esperar, é preciso ser persistente e insistente, vença pelo cansaço se for preciso, e se quer realmente entrar numa universidade, se é isso que você deseja, elimine a palavra DESISTIR do seu dicionário, ela não merece ser consultada enquanto você luta para chegar ao seu objetivo.
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