Os mais próximos o chamam de Steve, o primeiro nome do soteropolitano Steve Biko Menezes Hora Alves Ribeiro. O estudante de Biotecnologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), aos 24 anos, está a frente de projetos considerados os mais inovadores do país. Além do nome do ativista sul-africano, Steve nos conta que traço da sua personalidade o aproxima ainda mais do líder inspirador do nosso Instituto. Num bate-papo descontraído, ele fala com simplicidade sobre sua trajetória de sucesso sendo jovem, negro e empreendedor.
Não poderíamos
iniciar essa entrevista de outra forma: A que se deve a escolha do seu nome e
qual significado ele representa para você?
Meu pai sempre gostou da história dos movimentos sociais, tinha lido a
biografia de Steve Biko e assistido o filme “Um Grito de Liberdade”. Ele queria
ter um filho e um nome representativo para ele. Pela história de luta e
resistência de Steve Biko achou o nome adequado para o primeiro filho homem. Para
mim é um nome muito forte, representa muito e sem me conhecer as pessoas já
esperam uma pessoa de personalidade grandiosa. Eu gosto não só pela força que o
nome traz, mas pela história que está atrelada a ele.
Então você
conhece a história de Stephen Bantu Biko. É possível estabelecer semelhanças
entre a sua personalidade e modo de ver a vida com a liderança sul-africana?
Steve Biko lutava por causas que ele acreditava que seriam fundamentais para
a mobilização da população negra na África do Sul. Ser forte e resistir às
diversas formas de pressões, lutar pelos ideais que acredita também fazem parte
da rotina de um empreendedor, características que se enquadram em minha
personalidade.
Antes de se
tornar um empreendedor você entrou para o ensino superior. Qual a sua
trajetória educacional?
Sempre estudei em colégio particular, fiz alguns cursos separados, que eu
chamo de “ligação de pontos”, hoje eu vejo como o teatro foi o curso mais
importante que eu fiz antes de entrar na universidade. Fiz por distração, mas quando eu tenho que falar em público, para um
grupo de empresários, por exemplo, percebo que o teatro me ajudou bastante, até
então eu era tímido. Nunca fui um estudante de destaque, daqueles com excelentes
notas na escola, por isso me considero um estudante razoável.
Fiz muitos vestibulares, Geografia na Uneb foi o primeiro que eu passei,
entrei num cursinho e passei em Bacharelado Interdisciplinar em Saúde e Química
na Uneb, estudei mais um pouco e passei em Biotecnologia e Medicina. Com
exceção de Geografia, cheguei a cursar todos os que eu passei, mas
Biotecnologia na UFBA foi o que mais se encaixou com o meu perfil e depois que
iniciei, muitas coisas aconteceram em minha vida. Estou entusiasmado com o
curso de Biotecnologia.
Foi a partir do
curso de Biotecnologia que surgiu o interesse na área de inovação tecnológica?
Sim. Meu primeiro projeto foi transformado em empresa no SENAI-CIMATEC,
que é voltada para análise de qualidade de sementes. O Brasil é um alto
produtor de sementes e precisa de uma análise de qualidade eficiente, a partir
daí me tornei empreendedor e fui ser responsável pela empresa no SENAI. No
edital do Ministério de Desenvolvimento do Comércio Exterior eu escrevi dois
projetos e os dois ficaram entre os 128 projetos mais inovadores do Brasil, um
foi sobre o controle de qualidade das sementes e o outro na utilização da
nanotecnologia.
O que mudou a
partir dessa premiação?
Quando você passa nesse edital você tem a possibilidade de conhecer
grandes empresários. Durante um período tive a colaboração de um “tutor” que
contribuiu para o que sou hoje. Fiquei um tempo com ele aprendendo como é ser
um empresário no Brasil, quais as dificuldades, como lidar, conversar, parte da
“Formação de Empreendedores e Executivos de Alto Nível”. Depois desse passo
veio a competição nacional de inovação, onde ganhamos o primeiro, o segundo e o
quarto lugar, sendo o primeiro lugar a criação de uma chupeta inteligente, que ao
colocar na boca da criança ela capta os sinais vitais e calcula o fluxo da
saliva e os resultados são enviados ao smartphone
da mãe.
Quais as
dificuldades que um empreendedor negro enfrenta e quais as suas estratégias
para superar essas dificuldades?
No mundo empresarial o perfil do empresário que a maioria tem é de uma
pessoa branca. Na troca de e-mails, as pessoas não te veem, mas quando temos
uma reunião percebo o quanto é notório o espanto de alguns empresários no
contato pessoal. Perguntam “É você?”
Mas você
acredita que é importante os jovens negros ingressarem na universidade, já
pensou em contribuir?
Acho que carrego uma representatividade neste sentido, a maioria dos
empresários não são negros. É interessante investir, posso ser um voluntário do
Instituto Steve Biko e o meu papel seria passar o meu conhecimento para jovens
que sonham em fazer o novo, em inovar.
Que mensagem
você deixa para negros e negras que pretendem ingressar em cursos de tecnologia?
Trabalhar com inovação e tecnologia é fantástico! Somos preparados para
não modificar muito o que está ai, seguindo os caminhos que já foram trilhados
e não modificar muito, então quando você descobre que você é capaz de modificar
e ajudar as pessoas é a grande transformação, não só na ciência, mas na
sociedade. Não se prenda ao que já foi feito, tem que perseverar, ser esperançoso
e acreditar naquilo que você almeja. Siga sempre o que acredita.
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