
BIKO DISSE: "Precisamos aprender a aceitar que nenhum grupo, por melhores intenções que tenha, poderá um dia entregar o poder aos vencidos, numa bandeja."
Bikodisse: Quem escolheu seu nome? Que significado tem?
Nairobi Aguiar: O meu nome foi escolhido por minha tia Ana Meire Aguiar, uma das fundadoras do bloco afro Ilê Aiyê e a primeira a inaugurar um salão de beleza afro. Meu nome foi dado na intenção de preservar e resgatar a nossa identidade africana. Toda a minha geração de linhagem paterna tem nomes africanos. Nairóbi foi um nome dado a um lago onde as pessoas se banhavam em busca da cura, com o tempo esse lago foi crescendo e se tornou um rio cujas margens foram povoadas até a constituição da cidade que hoje é a capital do Quênia, País africano.
Bikodisse: Como conheceu a Biko? Enfrentou dificuldades para cursar as aulas do pré-vestibular Steve Biko?
Nairobi Aguiar: Quando comecei a fazer Biko ainda estava no último ano do ensino médio e

Bikodisse: Qual importância do CCN da Biko para sua formação política?
Nairobi Aguiar: O CCN pra mim foi como um choque de alerta na minha condição de mulher negra e moradora de periferia. Foi nas aulas de CCN que muitas vezes ouvi Marina Bonfim e Marcus Alessandro dizerem que a universidade era o nosso lugar e que nós tínhamos a missão de ocupá-la...que deveríamos entrar pela porta da frente...sair da cozinha e ocupar todo esse espaço de poder. E foi bem isso que eu fiz.
Bikodisse: Quando e por que resolveu torna-se uma historiadora? Concluiu curso?
Nairobi Aguiar:Parafraseando Marcus Mosiah Garvey: “um homem sem o conhecimento da sua História é como uma árvore sem raiz”... De fato fui muito influenciada pelas aulas do professor Marcus Alessandro, e nessas aulas descobri que tudo que decorei em toda a minha formação educacional referente a história, era parte de uma grande mentira. Descobri que nós negras éramos descendentes de reis e rainhas, e que nossas heroínas e heróis foram invisibilizados pela historiografia “oficial”. Então pensei: meu papel como futura historiadora e professora de história é ajudar a desconstruir essa história, contar a nossa verdadeira História e contribuir para formação de pessoas comprometidas e questionadoras da realidade... Irmãs e irmãos capazes de se entender como sujeitos históricos e transformadores da realidade.
Bikodisse: Durante a graduação, você participou de uma mobilização, em prol da renegociação das mensalidades de um grupo de estudantes? Como foi essa atividade?

Bikodisse: Qual é a sua avaliação sobre a campanha Reaja? E de que forma você tem contribuído com as ações dessa?
Nairobi Aguiar:A “Reaja!” é uma campanha pela vida e contra o Genocídio da comunidade negra. A partir desta articulação de comunidades e organizações negras aprendemos desde 2005 que era possível (e necessário!) articular esforços da comunidade negra frente ao cotidiano processo de criminalização, engendrado pela interseção do racismo, sexismo e homofobia. A campanha teve uma importância particular para minha formação política, pois através desta conheci pessoas como Lio Nzumbi, Hamilton Borges, Vilma Reis, Andreia Beatriz... E ingressei numa escola política que quebrava o silêncio frente às variadas formas que assume o nosso Genocídio. Esta escola nos lembrava o tempo todo que estávamos “por nossa própria conta”, independente de partidos políticos, ONGs e as ditas organizações de “Direitos Humanos”. Já contribuí para construção de inúmeras atividades da campanha, mas agora creio que vivemos uma conjuntura complicada...o contra-discurso defendido pela campanha tem sido criminalizado... a matança de jovens negros continua sendo justificada como ações de combate ao tráfico, a juventude negra continua superlotando as instituições prisionais e sinto que a nossa voz no momento parece estar afônica e precisamos recuperá-la para continuarmos essa luta e garantir a vida da nossa juventude.
Bikodisse: Como se deu sua participação do I ENJUNE ?

Nairobi Aguiar:Por entender a importância de reunir a juventude negra nacionalmente e poder pensar, propor e encaminhar políticas públicas para essa, participei no primeiro momento (pré-ENJUNE) do Grupo de Trabalho de educação em Vitória da Conquista. No ENJUNE propriamente dito, fui escolhida para ser relatora do Grupo de Gênero e feminismo negro.
Bikodisse: Atualmente você é assessora parlamentar do vereador Moisés Rocha (Salvador-Bahia). O que pode nos contar dessa experiência?
Nairobi Aguiar:Acho importante ocuparmos e conhecer estrutura de poder. Entendo o poder legislativo como um meio de construirmos uma outra forma de fazer política, onde verdadeiramente possamos literalmente construir projetos que se adéquem as necessidades do povo negro, para então podermos utilizar a estrutura ao nosso favor. Podemos dizer que indubitavelmente conseguimos construir um mandato verdadeiramente participativo e popular. Toda a nossa atuação é construída junto aos segmentos que representamos no poder legislativo municipal. De fato, nos consagramos como mais um dos poucos espaços em qual a comunidade negra pode ter a sua voz ecoada e as suas demandas atendidas a partir de um espaço que nós

Bikodisse: Você considera importante votar em candidatos negr@s e comprometidos com as questões raciais?
Nairobi Aguiar:Acho que devemos não só votar, mas apoiar, multiplicar o voto entre nossa família, amigos, e outras pessoas que possamos influenciar na eleição de candidatos negros comprometidos, que tenham o seu projeto político verdadeiramente voltado aos interesses de nossa comunidade. Precisamos refletir sobre a importância do nosso voto. Qual o número de votos do colégio eleitoral hoje na Bahia? Questões como esta nos impõe a necessidade de transformar esta realidade, garantindo eleição de homens e mulheres comprometidas com a nossa história, que tenham como bandeira o combate a toda forma de discriminação, na busca da reparação do nosso povo. Por isso declaro o meu apoio ao Deputado Federal Luiz Alberto.
Bikodisse: Você tem um filho de 02 anos. Qual nome dele e qual importância de colocar nomes de origem africana? O que a mamãe Nairobi deixa como mensagem para as gerações futuras?
Nairobi Aguiar:Meu filho se chama Oniodê Nzumbi. Eu e seu pai Lio Nzumbi escolhemos esse nome porque sabemos que o nome de uma pessoa é fundamental na construção de uma identidade. Ainda assim seguindo a linha de pensamento que a minha tia teve, no resgate da nossa identidade africana. Como era de se esperar, tivemos problema para registrá-lo, porque a
