Grandes mudanças estão para acontecer na África do Sul. A primeira Constituição pós-apartheid está em fase de elaboração e as primeiras eleições multirraciais da história daquele país estão marcadas para 27 de abril do ano que vem. Isso significa que o surgimento de um governo de maioria negra, que colocaria um fim em 350 anos de dominação branca, deixou de ser apenas uma possibilidade teórica. E claro que nem tudo são flores. A violência racista continua existindo, uma vez que o aparelho de Estado montado pelos racistas ainda sobrevive. Além disso, um setor mais radical da população branca parece ter optado pela resistência armada às mudanças. E grande parte das cenas de violência que se tomaram habituais na África do Sul têm como protagonistas os próprios negros. Os choques entre militantes do Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela, e do Partido da Liberdade Inhkata, do chefe zulu Mangosutu Gatsha Buthelezi, provocaram e continuam provocando muitas mortes.
Apesar de toda violência, o recuo do regime racista, iniciado no final da década de 80, já é irreversível e o surgimento de um regime democrático no sul do continente africano é agora uma possibilidade real. A importância de uma África do Sul democratizada não se restringe ao fim da opressão sobre os negros do país. Sua riqueza e seu avanço tecnológico são vistos por muita gente corno um importante potencial regional que pode facilitar a quebra do isolamento econômico a que o continente africano está submetido, contribuindo para a melhoria das condições de vida de milhões de africanos.
Entre os milhares de negros sul africanos que deram a vida pela libertação do seu povo da opressão racista, existem muitos nomes que se destacam. Mas um deles terá para sempre um lugar especial na memória do povo negro da África do Sul e dos democratas do mundo inteiro. Seu nome era Steve Biko, principal dirigente da organização Consciência Negra e ex -presidente da Organização dos Estudantes da Africa do Sul (OESA), entidade que representa os estudantes negros daquele país.
Steve Biko nasceu a 18 de dezembro de 1946
Desde cedo, Biko demonstrou ter uma mente aguçada que se combinava com personalidade carismáticas. Era um homem alto e bonito. Tinha mais de Biko começou os estudos na Brownlee Primary, onde ficou dois anos, passando em seguida para a Charles Morgan High Primary, onde permaneceu 4 anos. Depois foi para Lovedale, uma escola para meninos na parte oriental da Província do Cabo. Mas a passagem por ali foi curta. E, 1963, após uma permanência de apenas 3 meses, Biko e muitos outros estudantes seriam expulsos, depois de uma greve deflagrada pelos alunos mais velbos.
Em 1966, depois de concluir com sucesso os estudos em uma escola católica, Biko matriculou-se na Universidade de Natal para estudar medicina, curso que seria obrigado a abandonar para se dedicar à atividade política. Já em 1967, ao participar do congresso de uma organização estudantil liderada por brancos, na Universidade de Rhodes, Biko chamava a atenção dos meios de comunicação, conquistando a liderança sobre os delegados negros. Em outra conferência de uma organização multirracial, realizada em 1968, em Stutterhein, suas idéias receberam um apoio entusiasmado da delegação negra. Segundo Pityana, esse encontro estaria na origem do nascimento da Organização os Estudantes da África do Sul, que perturbou profundamente o alinhamento tradicional do mundo estudantil sul-africano, que consistia, por um lado, no Afrikaanse Studenbond, representando as universidades de língua africâner que apoiavam o apartheid, e por outro lado a UNESA, que representava os estudantes de língua inglesa, incluindo as faculdades negras.
Depois que deixou a presidência da OESA, (seu sucessor no cargo foi Barney Pityana), Biko voltou suas energias para a implantação dos Programas da Comunidade Negra (BCP). Esses programas eram centralizados na igreja da Leopold Street
O governo racista, evidentemente, via perigo nas atividades de Biko e o perseguia.No ano de 1973, ele estava entre dezesseis ativistas, brancos e negros, que foram banidos pelo governo. No total, foi proscrito e detido quatro vezes. Essa pena de proscrição, que era imposta pelo governo racista aos ativistas anti-apartbeid, consistia no confinamento em determinada área ou cidade e, conseqüentemente, na proibição de se movimentar pelo país.Ela incluía também a proibição de estar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, de publicar textos e outras.
Por força disso, ele foi obrigado a abandonar Durban, onde vivia, e transferir-se para King Willian 's Town. A cidade tornou-se então um ponto de referência para onde se dirigia um interminável fluxo de visitantes para ouví-lo.
Fonte: Revista Pode Crê, Ano I- Ago/Set - 1993, nº 2 |
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Steve Biko (Parte 1)
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